Untitled Document
SÁBADO, 23 DE NOVEMBRO DE 2024
18 de OUTUBRO de 2016 | Fonte: Correio do Estado

Pesquisa inicia experimentos contra o carrapato

O círculo vicioso da infestação envolve não apenas os animais, mas a pastagem
O carrapato se fixa no pelo dos animais para se alimentar de sangue (Foto: Divulgação)

A chegada do período das chuvas proporciona um aumento na umidade do ar e de temperatura, ambiente propício para a multiplicação do carrapato-do-boi (Rhipicephalus microplus), principalmente nas condições do Brasil Central. Além disso, estima-se que os prejuízos causados pelo ectoparasita cheguem a 3,24 bilhões de dólares ao ano no País, com impactos negativos na produção de carne, leite e couro. Diante desse cenário, os pesquisadores da Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande, baseados em recomendações e dados de pesquisas já disponíveis, apresentam uma nova proposta de controle de carrapatos, associada ao manejo da pastagem para bovinos de corte, na fase de recria, com ênfase em animais cruzados.

 

“A proposta foi construída para orientar produtores na implantação de um sistema produtivo, que alia intensificação da produção à base de pasto com a minimização da infestação por carrapatos no rebanho”, explica Renato Andreotti, pesquisador da Embrapa e um dos idealizadores do projeto. Ele complementa que esse manejo intensivo da pastagem, em teste, será avaliado e validado em curto prazo, a partir de março de 2017, em um projeto com aporte da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (Fundect), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

 

A metodologia consiste em dividir em quatro quadrantes uma área fixa de 100 hectares, formada por braquiária brizantha, em plena produção, em região de Cerrado em Mato Grosso do Sul. A pastagem terá adubação de manutenção, durante as chuvas e logo após cada pastejo. Os 100 animais cruzados (Nelore x Angus), em recria, colocados na área, ficarão em rotação por período fixo de 30 dias em cada piquete. “A finalidade de estabelecer um prazo de 90 dias para o retorno ao primeiro piquete atende ao mínimo de 82,6 dias como período estimado para uma ‘limpeza da pastagem’, em relação à população de larvas infestantes, permitindo que a prática seja utilizada como medida complementar para o controle do carrapato”, completa Andreotti, que estuda há mais de 20 anos os ectoparasitas na Embrapa Gado de Corte.

 

O excedente de forragem, conforme o médico-veterinário, será armazenado em forma de feno para uso na estação seca, como volumoso. Ao final do ciclo de um ano, 365 dias, a equipe composta por Andreotti, Fernando Alvarenga Reis (Embrapa Caprinos e Ovinos), Jacqueline Cavalcante Barros, Vinícius da Silva Rodrigues e Marcos Valério Garcia espera que o ganho esperado seja além da produção de animais com peso ideal no final da recria. Os especialistas acreditam em ganhos com a redução nos custos do controle químico do carrapato, a partir da eliminação da perda decorrente da infestação, com a adoção do manejo intensivo e recria bovina.

 

Andreotti destaca que não há restrições quanto ao modelo a ser aplicado em sistema de produção de leite, com base ecológica ou com animais sensíveis, inclusive, em situações em que aja necessidade de reduzir o uso de produtos químicos. Após esse período de um ano, os técnicos compilarão os resultados em uma nova recomendação técnica disponibilizada na Série Documentos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, com acesso livre a produtores e técnicos.

 

CONTROLE DO CARRAPATO-DO-BOI

 

O controle baseado somente no uso de carrapaticidas geralmente é realizado quando o animal apresenta altas infestações por carrapatos, o que ocorre somente na metade final da fase parasitária, quando a maior  parte dos danos ao bovino já se tornou irreversível. Os carrapatos observados no animal representam apenas 5% da população presente nos animais, e o restante (95%) encontra-se na pastagem na fase de vida livre.

 

Realizando a contagem de carrapatos em bovinos cruzados zebu-holandês no Brasil Central, Carneiro et al. (1992) observaram picos de infestação nos meses de fevereiro, junho, agosto e novembro. Já Labruna e Veríssimo, trabalhando com animais da raça Girolando na Região Sudeste, observaram picos em setembro/outubro, março/abril, julho e dezembro.

 

Passos a serem dados para controle estratégico:

 

• Escolher o produto adequado ao combate da população de carrapatos de cada propriedade, por meio de bioensaios para avaliação da suscetibilidade.

 

• Aplicar o carrapaticida na época adequada. Recomenda-se iniciar o controle no final do período seco, época desfavorável ao carrapato no campo, quando sua população está baixa. Ao aplicar carrapaticidas nos animais nessa época, são combatidas todas as larvas presentes no hospedeiro, prevenindo-se o aumento da população do parasita na pastagem assim que se inicia o período que lhe é favorável.

 

• Realizar uma série de cinco tratamentos com carrapaticida de contato com intervalos menores que 21 dias. Ao utilizar produtos com efeito residual, deve-se somar o tempo de proteção aos 21 dias do ciclo para definir o intervalo de tratamento. Com isso, pode-se evitar o desenvolvimento das larvas do carrapato por um período de 105 dias, retirando grande parte da população de larvas das pastagens e, consequentemente, diminuindo significativamente a quantidade de teleóginas no pasto.

 

O Brasil Central se caracteriza por um clima com duas fases bem distintas; uma época de chuvas, durante os meses de outubro a março, abrangendo a primavera e o verão, e a época de seca, que compreende os meses de abril a setembro, representando o outono e inverno. Diante dessas características climáticas, a dinâmica populacional de carrapatos é representada por quatro picos anuais de infestação.

 

Assim, na primavera, o aumento da temperatura e umidade inicia o período favorável ao desenvolvimento do carrapato, ao estimular o metabolismo dos ovos e promover a eclosão das larvas. Em consequência, aumenta bastante o número de carrapatos nas pastagens, e é por isso que o controle inicial efetuado no final do período seco do ano deve ser imediatamente continuado como parte do controle estratégico. E, durante a época das águas, a temperatura e a umidade são favoráveis aos carrapatos na pastagem. Do momento da queda da teleógina e postura, até a eclosão e fixação das larvas, o processo é rápido.



Untitled Document
Últimas Notícias
Pecuaristas de MS devem atualizar cadastro de rebanhos na Iagro até o dia 30 de novembro
STF prorroga para 2025 prazo de conciliação sobre marco temporal
TJD-MS estabelece até 4 de dezembro nova eleição da Federação de Futebol
Untitled Document