Uma ex-funcionária da Carioca Engenharia, construtora investigada na Operação Lava Jato, disse que comprou gado superfaturado de uma empresa ligada à família do ministro do Esporte do governo de Michel Temer (PMDB), Leonardo Picciani.
A matemática Tânia Maria Silva Fontenelle, que foi diretora financeira da Carioca Engenharia, afirmou que "recebia solicitações de acionistas e de diretores da empresa para providenciar dinheiro em espécie".
Disse, ainda, que sabia que "a destinação dessas quantias era ilícita, para corrupção ou para doação eleitoral não-declarada".
No depoimento, Tânia explicou como a empresa conseguia dinheiro vivo para fazer pagamentos ilegais. Ela afirmou que fechava contratos simulados com empresas. Disse ainda que, na maioria dos casos, os serviços eram realmente prestados, mas com valores superfaturados.
Uma das operações citadas por Tânia envolveu a Agrobilara Comércio e Participações Ltda, que tem como controladores o presidente da Assembleia do Rio de Janeiro, Jorge Picciani, e os filhos Leonardo Picciani, que é ministro dos Esportes, e Rafael Picciani, deputado estadual e secretário de coordenação de Governo da Prefeitura do Rio. Os três são do PMDB.
A matemática afirmou ainda que foram "gerados recursos em espécie com a Agrobilara, por meio da compra, pelo grupo Carioca, de animais bovinos com preços superavaliados. Falou também que "as vacas foram entregues mas que parte do valor pago foi devolvida à Carioca".
Tânia não diz no depoimento para onde foi o dinheiro devolvido à empresa.
O outro lado
Em nota, Jorge Picciani negou as acusações.
"Desconhecemos quem seja essa senhora, que – caso a informação dada ao jornal seja verídica – está praticando um crime ao mentir para as autoridades.
A família proprietária da Carioca é, como se sabe, antiga e conhecida criadora de gado Nelore. E a Agrobilara, como se sabe igualmente, uma das principais fornecedoras de genética de Nelore P.O. do Brasil.
Todas as vendas feitas seguiram rigorosamente os preços praticados no mercado, e eventualmente até abaixo dele, com notas fiscais emitidas mediante cobrança bancária e impostos devidamente recolhidos.
Todas as transações podem ser comprovadas, assim como as entregas e transferências de propriedade, através do livro de registro da ABCZ (Associação Brasileira de Criadores de Zebu).
A Agrobilara, por mim presidida, está à disposição das autoridades para comprovar a improcedência das afirmações desta senhora, que será por nós processada e instada a provar que teria havido superfaturamento e/ou devolução de recursos em espécie da nossa parte, caso as informações do jornal a propósito de possível acordo de leniência se confirmem".