O diretor-regional do Senai, Jesner Escandolhero, defendeu, na quinta-feira (07/05), durante audiência pública para debater a crise no setor da mandiocultura, realizada pela Assembleia Legislativa, a autonomia da indústria da panificação no uso da farinha de mandioca. “Nós somos favoráveis a qualquer lei que venha estimular e fomentar pesquisa e desenvolvimento para novas aplicações da mandioca e seus derivados na formulação de novas receitas. Fomentar e incentivar, nunca obrigar porque isso vai contra a iniciativa do livre mercado e ao próprio direito do consumidor na escolha do produto que quer consumir”, ponderou.
Jesner Escandolhero acrescenta ainda que atualmente o pão francês representa 46% do faturamento da indústria da panificação e qualquer alteração na formulação desse produto por aditivo da fécula da mandioca ou qualquer outro amido pode representar um impacto muito grande no faturamento do segmento. “Então, isso não deve ser feito sem uma pesquisa ampla compatível com o nível de consumo e de relevância que o pão francês tem hoje no mercado de consumo brasileiro”, completou.
O presidente do Sindepan/MS (Sindicato das Indústrias de Panificação e Confeitaria de Mato Grosso do Sul), Marcelo Barbosa, declarou que os empresários do segmento são contra qualquer tipo de imposição. “Com essa adição da fécula de mandioca, o pão francês vai perder toda a característica e isso também fere o direito do consumidor de escolher o produto que ele quer comprar. A principal tecla que nós estamos batendo é essa. A partir do momento em que se coloca a fécula da mandioca ele passa a ser um produto diferente. Nós defendemos que cada um usa se tiver preço e podendo usar em outras receitas”, comentou.
O vice-presidente da Abip (Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria), Paulo Sérgio Dias Lopes, disse que a associação é totalmente contra a obrigatoriedade da adição da fécula da mandioca. “Nós entendemos que essa obrigatoriedade prejudica a qualidade do pão e a Abip está desenvolvendo um trabalho para a melhoria da qualidade do produto final, especialmente, do pão francês. Nós temos que melhorar a qualidade e aprimorar as técnicas de produção e esse projeto vai totalmente contra isso”, reforçou.
Para o gerente da unidade de indústria e projetos estruturais do Sebrae, Rodrigo Maia, existem outros mecanismos para apoiar a cadeia madiocultura que até então não estão em pauta. “Nosso pensamento é de que quando a gente olha uma cadeia produtiva nós não podemos enfraquecer um elo e fortalecer o outro. Poderíamos falar da inclusão desses produtos na merenda escolar, nas creches, hospitais, ou seja, naquilo que é público e não transferir a responsabilidade para a indústria da panificação e de confeitaria de absorver o problema que está no campo”, argumentou.
Já o deputado estadual Renato Câmara falou da importância de reunir todas as forças para pavimentar um novo caminho para os produtores de mandioca. “Uma das maiores dificuldades no momento é que o preço está menor do que o custo de produção e, além disso, os produtores estão com dificuldades de pagar a dívida do financiamento”, pontuou. O deputado estadual João Grandão reforçou a minuta de um Projeto de Lei de sua autoria que determina a obrigatoriedade da adição de até 10% da farinha de mandioca refinada ou fécula de mandioca à farinha de trigo na produção de pães, biscoitos e similares. “É de fundamental importância realizar essa audiência para toda a cadeia produtiva da mandiocultura e para o desenvolvimento do Estado”, afirmou.
O secretário estadual de Produção e Agricultura Familiar de Mato Grosso do Sul, Fernando Lamas, afirmou que esse problema é recorrente em Mato Grosso do Sul. “Nós precisamos discutir estratégias duradouras para continuar contribuindo com a cultura do nosso Estado. A mandioca tem uma importância econômica, cultural e social muito grande, então temos que buscar alternativas para minimizar esse problema, canais de comercialização para evitar novas crises que podem vir a ocorrer”, falou.