Chegou ao fim a carreira do zagueiro Neto. Nesta sexta-feira (13/12), o sobrevivente da tragédia com o avião da Chapecoense em 2016, na Colômbia, anunciou a aposentadoria. Aos 34 anos, ele tentava retornar ao futebol após voltar a treinar com bola, em março deste ano, depois de dois anos em recuperação.
Em entrevista ao Globo Esporte, Neto falou sobre a decisão, que foi em conjunto com os médicos da Chapecoense, e apontou as constantes dores como fundamentais para a aposentadoria.
– Paro. Já estava alinhado com os médicos e com o clube. Queria fazer uma despedida, um jogo, mas optei por não. Fui convidado a entrar no último minuto contra o CSA (pelo Brasileiro), mas não optei por não fazer. Claro que tenho um carinho pelo torcedor e seria um presente ao torcedor, mas a vida é um presente. Tinha intenção muito grande de estar em campo por um minuto ou 10, que sejam.
– Meu corpo não aguentava mais. As dores eram maiores que o prazer. Conversei com os médicos e logo vai ter um comunicado oficial do clube. Aparentemente, no dia-a-dia não tinha dores, mas nos treinos em alto nível o corpo não aguentava as dores no joelho e na coluna, que foram o que mais me entristeceram no final e me tiraram do campo – completou.
O clube trabalha na possibilidade manter Neto como membro da diretoria, atuando diretamente no futebol. O ex-atleta, manifestou recentemente o desejo de permanecer morando em Chapecó, algo que estava programado antes mesmo da tragédia.
- Estou enraizado aqui, antes da tragédia pensava em morar aqui. Lembrava da conversa com Maurinho (Stumpf, dirigente morto na tragédia) e minha renovação passava por isso. Se renovasse ia comprar apartamento para morar aqui. Para mim é uma satisfação estar aqui, viver o que tenho vivido. Aqui a gente recebe o carinho do torcedor e entendem que a gente ama o clube e a cidade - disse no evento que marcou os três anos do acidente.
Neto passou pelo famoso batismo do jogadores de futebol no CT da Água Amarela no retorno aos treinamentos. No corredor polonês, recebeu "camisetadas" dos companheiros, e nem ele, nem os demais atletas, esconderam a felicidade.
Último sobrevivente a ser resgatado no acidente aéreo que deixou 71 mortos, entre eles 19 jogadores da Chape, Neto lutou pela vida e ficou internado por duas semanas na Colômbia. Ele desembarcou em Chapecó no dia 15 de dezembro. Depois de nove horas de viagem, foi recebido com faixas e gritos de "o campeão voltou". Em ambulância, o jogador foi transportado para o hospital da região central da cidade.
Desde então, Neto participou apenas de um jogo beneficente para arrecadar dinheiro para os familiares de vítimas da tragédia, mas não atuou mais profissionalmente. Com contrato até 2021, o clube trabalhava no suporte para que o atleta retornasse normalmente aos gramados, mas evitava estabelecer prazos e aumentar a pressão pela volta.
O ex-goleiro Jakson Follmann e o lateral Alan Ruschel, atualmente no Goiás, foram outros jogadores que sobreviveram, bem como dois tripulantes da LaMia. O jornalista Rafael Henzel, sexto sobrevivente do acidente aéreo em 2016, faleceu em março deste ano após infarto enquanto jogava futebol com amigos.
Sem conseguir voltar a jogar profissionalmente, Neto se tornou atuante na defesa dos familiares das vítimas da tragédia. Em setembro deste ano, viajou a Londres e protestou em frente à sede da Aon, empresa que se alega ter atuado como corretora do seguro da aeronave da LaMia, e da Tokio Marine Kiln, seguradora.
A Chapecoense ainda responde a 28 ações na Justiça, nas áreas trabalhista e cível. Desde a tragédia, foram 38 ações trabalhistas, sendo 28 resolvidas com acordo, enquanto dez tramitam nos tribunais – além de 17 acordos extrajudiciais, antes que as ações fossem impetradas. O clube também responde a outros 18 processos na Justiça cível, mas considera que não pode ser responsabilizada pelo acidente.
Nascido no Rio de Janeiro, Hélio Hermito Zampier Neto, conhecido como Neto, começou a carreira pelo Francisco Beltrão, do Paraná. Ainda atuou por Cianorte, Guarani, Metropolitano e Santos, antes de chegar a Chapecoense, em 2015. Na juventude, ainda atuou na base de Paraná Clube e Vasco. No Verdão do Oeste, ele foi campeão da Copa Sul-Americana, em 2016, e bicampeão catarinense em 2016 e 2017.