A posição de destaque na produção de suínos e aves de Mato Grosso do Sul (8º produtor nacional em produção e 7º em exportação) está ameaçada de fortes prejuízos, em razão da paralisação nacional dos caminhoneiros que hoje (29/05), completa oito dias.
No caso da suinocultura, a situação está no limite, pois, animais em fase de terminação (engorda) para abate tiveram a alimentação diária reduzida pela metade (nesta fase, cada animal consome diariamente 4kg de ração que foi reduzida para 2kg) e os frigoríficos de Dourados e São Gabriel do Oeste interromperam o abate desde a última quinta-feira (24).
A informação foi confirmada com o presidente da Associação Sul-mato-grossense de Suinocultores (Asumas), Celso Phillipe Júnior, que reforçou a maior preocupação dos suinocultores.
"Até o momento conseguimos contornar a situação com a ração já produzida em estoque, no entanto, desde o início da paralisação não entra matéria-prima para produzir alimento e isso está refletindo, tanto na mortandade de animais recém-nascidos quanto naqueles em fase de engorda que iniciam o processo de canibalismo, mordendo e depois comendo uns aos outros", explica.
Phillipe Júnior destaca que a associação está tentando negociar com os manifestantes a liberação controlada de animais vivos para abate, evitando assim uma situação de caos nas granjas do Estado. "Atualmente, a cadeia produtiva de suínos abate diariamente 8,5 mil animais. Então temos, lotes em diferentes estágios de desenvolvimento e precisamos evitar prejuízos ainda maiores", complementa.
AVICULTURA TAMBÉM PREOCUPA
As granjas de avicultura do Estado também enfrentam situação preocupante, mas, felizmente não foram identificados casos de canibalismo. Detendo a oitava posição na produção e sétima na exportação nacional de aves, o avicultor já amarga prejuízos que podem demorar até oito meses para normalizar.
De acordo com Adroaldo Hoffmann, presidente da Associação de Avicultores de Mato Grosso do Sul (Avimasul), os produtores até agora conseguiram manter a alimentação sob controle, mas, o problema também é maior em relação aos animais preparados para abate.
"Um exemplo pessoal que posso compartilhar é a minha situação como avicultor. Tenho uma granja com 250 mil animais que ao ficarem prontos para abate renderão em torno de cinco mil quilos de carne (5 toneladas). Se este lote não for abatido em no máximo 15 dias, testemunharemos a mesma realidade noticiada nos últimos dias, em que granjas de outros estados registram focos graves de canibalismo", argumenta.
Na avaliação de Hoffmann, a manifestação é legítima, no entanto, é muito triste verificar o sofrimento dos animais, que ou morrem por fome ou terão de ser mortos para evitar o canibalismo. No caso de um volume alto como é o caso que mencionei, pode, refletir em outro situação prejudicial, que é a contaminação do solo e do lençol freático, no entorno das granjas", reforça o avicultor.
A Avimasul encaminhou nesta segunda-feira (28), uma solicitação de estudo dos prejuízos obtidos na cadeia produtiva para a equipe técnica da Federação de Agricultura e Pecuária de MS (Famasul) e deve ter um panorama real até a próxima semana.
RESOLUÇÃO FEDERAL
Entre os anúncios feitos na entrevista coletiva ontem (28), a Secretaria de Governo da Presidência da República informou que a Força Aérea Brasileira (FAB) foi autorizada a realizar transporte de medicamentos e insumos de saúde em situações de urgência.
Além disso, foi pontuada a situação da falta de ração para animais, pontuou o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, que confirmou a adoção da medida de transporte aéreo caso seja necessário.
A decisão foi priorizada, com a divulgação feita pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), de que a falta de ração pode levar a morte, pelo menos um bilhão de aves e 20 milhões de suínos.