A empresa Spotify vai estrear nesta terça-feira na Bolsa de Nova York e testar se os investidores veem seu serviço de música como uma estrela em ascensão ou algo passageiro. A estreia no mercado financeiro coloca em evidência a companhia sueca, líder no serviço de streaming de música, um modelo ainda em evolução que se baseia na ideia de que é melhor assinar um serviço para ter acesso on-line a milhões de músicas que comprar individualmente CDs ou singles. A empresa, que ainda não é lucrativa e já perdeu mais de US$ 3 bilhões, precisa convencer investidores de seu potencial de ganhos.
O Spotify conquistou até agora 71 milhões de assinantes em mais de 60 países de todo o mundo e tem como meta alcançar a marca de 96 milhões até o fim do ano. Para se ter uma ideia, o serviço de música streaming da Apple chegou a 38 milhões de assinantes em três anos. A lista de competidores inclui Google e Amazon, deixando em alerta o risco de competição com gigantes da tecnologia. O pedido para a abertura de capital foi feito em fevereiro.
O diretor-executivo do Spotify, Daniel Elk, busca administrar as expectativas e reconhece esperar um caminho com volatilidade. “Não tenho dúvidas de que haverá altos e baixos à medida em que continuamos a inovar e estabelecer novas capacidades. Nada acontece em uma linha reta. Os últimos dez anos certamente me ensinaram isso”, disse Elk em um blog na segunda-feira à noite.
Estreia em meio à turbulência
A estreia da Spotify se dá em meio à turbulência nas ações do setor de tecnologia, que despencaram na Bolsa de Nova York. A reação da China às medidas dos EUA com novas tarifas para aço e alumínio e para produtos chineses, combinadas com as críticas do presidente Donald Trump à Amazon, causaram a queda do mercado de ações nesta segunda-feira. O recuo nos papéis do gigante varejista puxaram uma venda maciça de ações de tecnologia e de consumo.
Netflix é exemplo
A liderança do Spotify no streaming de música levou a comparações com a Netflix, que construiu sua posição pioneira a partir de aluguel de DVDs e depois o streaming de vídeos para criar uma companhia de sucesso gigante que gera lucros espetaculares para seus investidores.
Quem investiu US$ 10 mil na estreia a Netflix na Bolsa em 2012 poderia ter hoje o equivalente a mais de US$ 2,6 milhões. Resta saber se o investimento no Spotify terá uma trajetória similar.
“As semelhanças aqui, acreditamos, são muito maiores que as diferenças”, escreveu, em um relatório, o analista da RBC Capital Markets Mark Mahaney.
Para além da mistura entre tecnologia e um modelo de assinatura para recriar uma forma popular de entretenimento, Spotify e Netflix têm outra semelhança: o atual diretor-financeiro do Spotify, Barry McCarthy, ocupava o mesmo cargo quando a Netflix foi a público e se manteve na posição até 2010.
Ainda sem lucro
Ao contrário da Netflix, Spotify ainda não é lucrativa: já perdeu mais de US$ 3 bilhões desde sua criação, há mais de dez anos. E já deixou claro que seu objetivo é ampliar a rede de assinantes por enquanto, mais do que fazer dinheiro.
A Netflix também conseguiu se manter distante dos outros competidores ao investir bilhões de dólares em uma programação original, que inclui títulos como “Stranger Things“ e “The Crown” e se expande cada vez mais. A estratégia, no entanto, pode ser mais difícil quando se trata do streaming de música, já que a Spotify está negociando os mesmos direitos que Apple, Google e Amazon, companhias que podem pagar mais, se quiserem.
— Uma das grandes dúvidas sobre o Spotify é se pode chegar ao próximo nível, como fez a Netflix — afirma Daniel Morgan, gerente da Synovus Trust.