Para um deficiente visual, caminhar por espaços públicos pode ser algo inimaginável. Em um exercício de equilíbrio e concentração, seguem guiados pelo piso tátil, que os leva, na teoria, a desviar de obstáculos, e atravessam as ruas, orientados por equipamentos sonoros instalados nos semáforos. Mas, e quando a acessibilidade acaba?
Aluna da Escola do Sesi de Corumbá demonstra ao presidente da Fiems, Sérgio Longen, como o protótipo funciona (Foto: Divulgação) |
Foi pensando em proporcionar um ambiente mais inclusivo para os deficientes visuais que cinco alunos da Escola do Sesi de Corumbá desenvolveram um sistema batizado de “Olho de Agamotto”, uma espécie de bengala eletrônica dotada de sensores programados para apitar no momento em que a pessoa que o utiliza se aproxima de qualquer tipo de barreira.
O projeto despertou o interesse do presidente da Fiems, Sérgio Longen, que, na última sexta-feira (30/06), esteve em Corumbá, quando os alunos demonstraram a ele como funciona o protótipo. A ideia é, inclusive, disponibiliza-lo no mercado e torná-lo acessível para os deficientes visuais.
“Essa bengala eletrônica é uma importante ferramenta que foi desenvolvida pelos alunos da Escola do Sesi de Corumbá e precisa ser reconhecido pelo caráter inovador, que é exatamente o que a área de Educação do Sesi está buscando. Vamos avançar nesse projeto e colocar esse produto no mercado. A ideia é fazer um piloto aqui no município, onde ele foi concebido”, disse Sérgio Longen.
O projeto
Usando conceitos das aulas de robótica, disciplina que integra a grade curricular das escolas do Sesi, os alunos usaram o modelo Lego “EV3” para construir o “Olho de Agamotto”. O nome do dispositivo foi baseado no amuleto que o personagem das HQs (Histórias em Quadrinhos) do Grupo Marvel, “Dr. Estranho”, carrega no pescoço e é inspirado no mundo real em “O Olho que Tudo Vê”, de Buda, nome dado a Siddhartha Gautama, líder religioso que viveu na Índia e fundou o “budismo”.
Na ficção, o “Olho de Agamotto” permite a quem o carrega percorrer distâncias
e dissipar disfarces e ilusões, enquanto no caso do protótipo desenvolvido pelos alunos do Sesi ele conta com um sistema de GPS integrado e sensores programados para indicar os comandos sonoros que serão transmitidos para o deficiente visual.
“Não é necessário um pacote de internet móvel para a programação funcionar. São satélites de GPS que oferecem para o receptor do Olho de Agamotto a sua posição e destino final”, explica Adilson Corrêa Júnior, da 3ª série do Ensino Médio, um dos alunos responsáveis pelo desenvolvimento do projeto.
“Nossa intenção é levar bem-estar para o deficiente visual. Estas pessoas deixarão de ficar totalmente dependentes das sinalizações públicas, já que em muitos lugares elas simplesmente não existem, e poderão ter mais autonomia”, espera Maria Fernanda da Silva, da 3ª série do Ensino Médio.
Mais vantagens
Outra vantagem, acrescenta Naiara Firmino Rodrigues, que também é da 3ª série, é a correção postural do deficiente visual. “O deficiente anda a maior parte do tempo agachado por causa da bengala, então alguns problemas se postura são corrigidos. Com o Olho de Agamotto, as pessoas com deficiência visual passam ter uma locomoção mais segura e com melhor tempo de deslocamento”, afirma.
Kianny Climaco Guerreiro, 2ª série do Ensino Médio, conta que o projeto surgiu após o grupo verificar as privações vivenciadas pelas pessoas que não enxergam. “São pessoas privadas de muitas experiências por não serem capazes de ver. Então decidimos ajudar”, finaliza sobre o projeto, que também foi idealizado pelo aluno Allison Barbosa, sob orientação dos professores Carlos Roberto Leão Campos e Marcelly Tavares.
“É uma satisfação muito grande ver que nosso trabalho árduo e dedicação já rendem bons frutos”, comenta Marcelly. Em outubro do ano passado, o Olho de Agamotto foi campeão da Fecipan, feira de ciência e tecnologia promovida pelo Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS), realizada com 27 escolas do município.
A vitória no evento rendeu um subsídio mensal do Instituto para financiar o projeto dos alunos da Escola do Sesi de Corumbá. “Foi um trabalho difícil, que exigiu muita dedicação de todos nós, e ver que ele está funcionando faz tudo valer a pena”, emenda o professor Carlos Roberto.