Em Mato Grosso do Sul, milhares de animais estão no campo, prontos para o abate. Só que os pecuaristas estão mais cautelosos para vender depois dos últimos acontecimentos do setor, como as delações da JBS e a maior oferta de gado gordo. No meio desse turbilhão, frigoríficos menores retomam espaço no mercado do estado.
O pecuarista Luiz da Costa Vieira Neto segurou os animais no pasto durante dois meses. Precisando de dinheiro, decidiu, na semana passada, mandar os bois para a JBS, mas só deve receber daqui a 30 dias. É que o maior frigorífico do país mudou a modalidade de pagamentos e desde maio compra somente a prazo, nada à vista.
“Não adianta eu segurar o boi, a conta chegar e eu não ter como quitar, pagar essa conta, porque aí eu vou pagar um juro muito maior. Então tenho que fazer minhas previsões. Eu tenho conta para pagar daqui a 30, 35 dias e tenho que abater o boi agora. Para chegar lá e ter dinheiro para quitar as contas. Todo mundo tem que fazer conta. Agora nós estamos dando um crédito a JBS e esperamos que a empresa não massacre os produtores”, comentou.
Em Mato Grosso do Sul, 300 mil animais estão prontos para o abate, mas continuam nos campos. O cálculo é da Associação dos Criadores do estado (Acrissul). O principal motivo é o preço baixo. Hoje a média da arroba do boi está em R$ 123, 14% a menos em relação ao mesmo período do ano passado. Para ajudar os pecuaristas, o governo até reduziu a alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de 12% para 7% nas vendas de gado gordo para outros estados.
“Esse gado sai e vai trazer uma arrecadação ao sair, incrementando o volume de vendas, possibilitando que o estado receba essa arrecadação que não contava, e o pecuarista, que é o dono do gado, resolva o seu problema, que é pagar as contas. Ele está apertado e precisa vender para fazer dinheiro”, comenta o presidente da Acrissul, Jonatan Barbosa.
Esse momento de desafio fez surgir um novo cenário no mercado. Com a situação, os frigoríficos menores, que perderam espaço nos últimos anos para grupos como a JBS, agora reaparecem como opção de negócios para muitos pecuaristas. Essas empresas geralmente pagam à vista, o que de certa forma, traz mais segurança para os produtores.
“Optamos por entregar o boi para quem paga à vista, isso, por quê? Porque em época de crise, com o cenário conturbado, ninguém sabe o que pode acontecer. Nós temos obrigações. Eu preciso pagar o salário dos meus funcionários. Eu preciso pagar meus fornecedores e se acontecer alguma coisa no meio do caminho não conseguirmos honrar”, aponta o presidente do Movimento Nacional dos Produtores (MNP), Rafael Gratão.
Vários frigoríficos menores do estado voltaram a trabalhar com a capacidade máxima de operação. “Houve um aumento significativo na oferta de animais para o abate. Tanto que anteriormente, trabalhávamos com uma escala com de uma semana, de sete dias. Hoje estamos trabalhando com 20 dias de escala. E dessa forma, também nós aumentamos o nosso abate em torno de 20% para atender essa maior oferta”, explica o empresário Sérgio Capicci, dono de uma frigorífico em Rio Negro.
Praticamente todos os frigoríficos de pequeno e médio portes registraram aumento de abates no mês, em Mato Grosso do Sul. Muitas empresas já procuraram, inclusive, a Superintendência Federal de Agricultura (SFA/MS), para exportar carne para mais países.
“Com muito mais frequência do que era costumeiro, temos recebido consultas. Não somente sobre a a ampliação de capacidade de exportação, como também ampliação da capacidade de operação no dia a dia. Cada frigorífico desse tem um limite de operação. Eles tê procurado o que é necessário fazer e qual a documentação necessária. Temos uma procura também de plantas que estavam paradas e já estão buscando retomar a produção”, explica o superintendente federal da Agricultura no estado, Celso Martins.