O depósito da Receita Federal em Ponta Porã, a 326 quilômetros de Campo Grande, na fronteira com o Paraguai, está lotado de mercadorias apreendidas. No local tem de tudo e não param de chegar produtos. Isso porque o órgão tem um escâner móvel, que custou milhões de reais, que está parado há meses, por causa de uma peça quebrada.
Depósito da Receita Federal lotado de mercadoria (Foto: Reprodução/TV Morena) |
No começo de junho, a Receita Federal em Mato Grosso do Sul lotou 20 carretas com mercadorias apreendidas para serem destruídas.
No pátio da Receita tem mais de 2 mil carros apreendidos, a maioria com contrabando. O chefe da delegacia da Receita, Marcial Cesar Pinazo, diz que a situação é preocupante. “Chegando próximo ao limite, como a demanda aumenta, existe a necessidade de você aumentar o giro de destinação dessa mercadoria, seja de leilão ou demais destinações legais”.
No depósito, tem ainda seis carretas de cigarro paraguaio que foram apreendidas tentando entrar no Brasil. A carga vale mais de R$ 12 milhões de reais. Uma máquina tritura brinquedos importados ilegalmente. Como não são brinquedos seguros, por causa da baixa qualidade, não podem ser doados, e por isso são destruídos
Um dos produtos mais contrabandeados é o pneu. Proibido de entrar no Brasil, mesmo pagando impostos, ele atrai os brasileiros pelo preço, que, quase sempre, esconde a baixa qualidade.
Corumbá
Em Corumbá, a 415 quilômetros de Campo Grande, na fronteira com a Bolívia, espiões dos contrabandistas vigiam a ação da polícia brasileira. Eles usam até crianças para disfarçar.
Do lado brasileiro, a estrutura de fiscalização é precária. No posto da Receita Federal só trabalham seis servidores. E ao contrário de Ponta Porã, lá o caminhão escâner, que custou R$ 4 milhões, funciona. Ele é capaz de encontrar produtos ilegais escondidos em qualquer cantinho.
Porém, com o passar do tempo, os flagrantes ficaram cada vez mais raros. Os criminosos já sabem que o aparelho, apesar de móvel, nunca sai do lugar. O contrato entre a Receita e a empresa que fornece os funcionários prevê que o escâner só pode ser operado no posto. Isso faz com que os criminosos utilizem outras rotas.
“Os contrabandistas tem uma organização um pouco mais estruturada, desde olheiros que são pagos para ficar olhando nossos servidores. E a nossa equipe é uma equipe reduzida, que não consegue ter essa mesma agilidade,” desabafa o inspetor-chefe da Receita Federal, Haroldo Hideara.
Mas não é difícil escapar da fiscalização. A menos de 50 metros da Receita, um buraco na cerca virou rota de passagem de contrabandistas. Eles atravessam nas barbas das autoridades, e raramente são pegos. Detalhe: a área pertence ao Exército Brasileiro. O buraco na cerca já existe há mais de seis anos.
E essa não é a única rota de fuga na fronteira. As estradas de terra, chamadas pelos policiais de cabriteiras, levam a muitos caminhos entre a Bolívia e o Brasil. Além dos contrabandistas, a Polícia Federal também circula na região mas o número de policiais é pequeno.
Prejuízo
O contrabando abre um buraco nos cofres públicos, por onde são perdidos, todos os anos, R$ 13 bilhões, em impostos não pagos, segundo levantamento do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras, o (Idesf).
Roupas, utensílios domésticos, brinquedos, pneus, cigarros. Mercadorias que entram no Brasil sem pagar impostos. Uma perda de dinheiro que gera muita pobreza, principalmente nas cidades fronteiriças.
“Nos 16.800 quilômetros de fronteira que o Brasil tem, nós temos os piores indíces de desenvolvimento humano do território nacional,” afirma o presidente do Idesf, Luciano Barros.
Caminhão scanner quebrado em Ponta Porã (Foto: Reprodução/TV Morena) |