O Estado de Mato Grosso do Sul tem a segunda maior taxa de suicídios do Brasil. São 197 mortes por autoextermínio por ano, o que quer dizer que a cada 44 horas uma pessoa tira a própria vida. Os números foram apresentados ontem durante o seminário "Depressão: Um grito no Silêncio", realizado na Câmara Municipal de Dourados.
O evento reuniu autoridades como a psicóloga e psicanalista, Pricila Pesqueira de Souza. Segundo ela, o número de mortes relacionadas com depressão cresceu 705% no País nos últimos 16 anos. São mais de 300 milhões de pessoas com a doença, que hoje é o maior motivo de afastamento no trabalho. Do total de pessoas com depressão, apenas 10% recebe ajuda médica, seja por falta de recursos, profissionais, estigma de o atendimento é voltado para "doidos" e falhas no diagnóstico.
Em Dourados, a peculiaridade é o grande número de mortes por suicídio entre a população jovem indígena. Segundo o Mapa da Violência, entre 2008 e 2012 foram mais de 117 óbtitos registrados, o que coloca a cidade em primeiro lugar no ranking estadual e uma das primeiras no ranking brasileiro.
Conforme dados apresentados pela psicanalista Pricila Pesqueira, através relatório da Secretaria Especial de Saúde Indígena, no ano de 2004 a taxa de suicídio no Brasil era de 4,5. MS manteve-se em segundo lugar com 8,73. Nas aldeias de Dourados a taxa de mortalidade por suicídio foi de 43,9 por 100 mil habitantes e em 2006 esse número subiu para 81,3. Em 2012 a expectativa de vida em MS era de 70,1 anos para homens, 78,2 para mulheres e apenas 34,7 anos para a população indígena.
O deputado federal Elizeu Dionízio (PSDB) disse que o suicídio é a segunda causa de mortes entre jovens no Brasil, ficando atrás apenas dos acidentes. Conforme ele a cada 40 segundos uma pessoa morre por suicídio no mundo. Apesar da elevada estatística ele acredita que os números podem ser ainda maiores.
"Muitos casos são registrados como asfixia, acidente doméstico, causas desconhecidas e que na verdade são tentativas de suicídio com êxito", destaca. O parlamentar destacou a fragilização do núcleo familiar, falta de diálogo, hipossuficiência, superproteção dos pais e a tecnologia, como fatores que podem estar causando a depressão. "As relações nas midias sociais, por exemplo, estão cada vez mais afastando aqueles que estão perto", destaca. O parlamentar falou da importância da de parcerias com o 3º setor, da implantação de psiquiatras nos polos bases de saúde, mais incentivos, e do diálogo para mudar essa realidade.
O deputado federal Geraldo Resende (PSDB) disse que em Brasília se discute hoje o Estatuto da Família, projeto de Lei 6.583/2013) que prevê, entre outros o tratamento psicossocial na rede pública. Também destacou a importância de olhar com atenção para os jovens e idosos que são os mais vulneráveis a depressão.
O parlamentar destacou a iniciciativa da Câmara Municipal e se colocou a disposição. Também proferiu palestra a presidente do Grupo Amor e Vida (GAV) em Mato Grosso do Sul, Thaíssa Milian Silva. A entidade, que atendia de forma gratuita na cidade através do Centro de Valorização da Vida (CVV) fechou as portas em 2010 por falta de incentivos públicos. Hoje o serviço 141 está disponível apenas em Campo Grande e Corumbá. No Estado, são 17 anos de dedicação ao próximo, ouvindo desabafo e evitando tragédias pelo telefone.
Providências
A presidente da Câmara Municipal de Dourados, vereadora Daniela Hall (PSD) e propositora do seminário, disse que o evento foi de fundamental importância para a sociedade. Ela afirmou que pretende lutar pela implantação do Conselho da Família, que são orgãos permanentes e autônomos, não jurisdicionais, encarregados de tratar das políticas públicas voltadas à família e da garantia do exercício dos direitos da entidade familiar.
Também garantiu que mobilizará o governo do Estado para viabilizar a implantação do Grupo Amor e Vida (GAV) - serviço 141, em Dourados. "O custo para manter esse serviço é irrisório em relação aos benefícios que Dourados terá com um serviço que poderá salvar vidas todos os dias", destaca Daniela.