Destaque no ranking de suicídio no Brasil, a cidade de Dourados não tem um dos mais respeitados e importantes serviços de apoio emocional e prevenção do autoextermínio: o Grupo Amor e Vida (GAV). A entidade, que atendia de forma gratuita na cidade através do Centro de Valorização da Vida (CVV) fechou as portas em 2010 por falta de incentivos públicos. Hoje o serviço 141 está disponível apenas em Campo Grande e Corumbá. No Estado, são 17 anos de dedicação ao próximo, ouvindo desabafos e prevenindo tragédias.
A falta desse serviço é preocupante principalmente num momento em que desafios suicidas como a "Baleia Azul" ganham a adesão de jovens pelo País. Em Dourados há suspeita de que mais de 100 adolescentes estariam nesse jogo mortal. A polêmica é tanta que em Campo Grande as ligações subiram 50% depois de mortes e tentativas de suicídios causados pelo jogo da Baleia.
"Muitos pais se dizem desesperados e em busca de ajuda nos procuram. A maioria dos adolescentes que participam desses desafios são de família desestruturada, com sentimentos que envolvem principalmente a rejeição ou a solidão. Hoje em dia nossos jovens têm milhares de seguidores nas redes sociais, mas se sentem só. Esse sentimento de solidão muitas vezes leva ao caos sentimental e ao desespero. Para quem está passando por um momento difícil cada segundo conta", explica a presidente do Grupo Amor e Vida, Thaíssa Milian Silva.
Segundo ela na maioria dos casos as pessoas não querem morrer, elas querem se livrar de um sofrimento. "Elas precisam de alguém que possa ouvir e acolher os sentimentos delas sem julgar. Nós do Grupo Amor e Vida temos as ferramentas capazes de destravar essas pessoas para que num clima de muito respeito e ética elas possam falar sobre aquilo que mais machuca naquele momento. Elas buscam um alivio para mágoas e sentimentos ruins. Buscam se livrar da dor psicológica".
Conforme especialistas, mais de 90% dos casos de depressão existe prevenção e o desabafo pode ser um grande aliado. É ai que entra o Gav, com equipe treinada por psicólogos e especialistas na área comportamental. "Ao atendermos uma chamada, buscamos criar um vínculo de confiança, onde a pessoa não precisa dizer o nome dela e nem o problema que a levou buscar ajuda. Muitas vezes fazer a pessoa se ouvir é um ótimo caminho para ela encontrar a saída do problema. Somos um facilitador do diálogo, que enfatiza os pontos positivos. Somos aquele amigo disposto a ouvir e fazer a pessoa se sentir melhor".
Estrutura
Quando a solidão e a desesperança andam de mãos dadas é pela linha do telefone que se encontra a mão amiga. São mais de 2 mil ligações por mês, sendo que a entidade teria capacidade para atender 3.500. "Cerca de 1.5 mil contatos acabam se perdendo por falta de estrutura como os voluntários e serviços móvel de telefone, já que pouca gente tem fixo para ligar para o 141 e o serviço não me gratuito para quem liga do celular", conta. Na Capital o custo para manter o serviço hoje, entre aluguel e telefone é de R$ 1.5 mil. "Cada suicídio custa ao Estado o valor de R$ 64 mil. Se os gestores públicos levassem em conta esse dado, investiriam no GAV que além de ser muito mais barato estaria salvando vidas", diz Thaíssa.
Estatística
Considerado um problema de saúde pública desde 2006 pela OMS (Organização Mundial de Saúde), o suicídio é a causa da morte de um brasileiro a cada 45 minutos, segundo dados da entidade. No mundo, o número cresce para um a cada 45 segundos.
Os números gerais do relatório do Mapa da Violência 2014 mostram que entre os anos 2002 e 2012, o aumento na taxa de suicídios foi maior que o crescimento populacional. O total de suicídios no país passou de 7.726 para 10.321, o que representa um aumento de 33.6% e o crescimento da população foi de 11,1% no mesmo período.
Dourados
Na tabela gerada pelo Mapa da Violência 2014 com os 13 municípios com mais suicídios entre indígenas no Brasil, Mato Grosso do Sul figura com 8 cidades. Dourados aparece como líder com 117 mortes registradas, seguida de Amambai, Paranhos e Coronel Sapucaia. Um dos fatos que contribui para essa realidade é o suicídio entre os Guarani e Kawioás.
Providências
Em Dourados a Vereadora Daniela Hall (PSD) já colocou o seu mandato a disposição para trazer o Grupo Amor e Vida (Serviço - 141) para Dourados. A vereadora diz que pretende verificar a possibilidade de um convênio com a prefeitura de Dourados na busca por um local para que a entidade possa atuar no município. "Nesse momento toda a ajuda é bem-vinda e o trabalho de prevenção que o GAV faz é indiscutível, além de ser de baixíssimo custo. Vou trabalhar para garantir esse serviço importante para Dourados", destaca.
A vereadora Daniela Hall (PSD) está propondo a criação de um plano de prevenção ao suicídio em Dourados envolvendo autoridades municipais e entidades ligadas à criança e ao adolescente. O objetivo é formatar ações concretas que vão desde o tratamento da depressão a criação de uma rede de saúde, educação e assistência social, voltadas para combater o suicídio. A vereadora também estuda a possibilidade de realizar uma audiência pública no próximo dia 25 para reunir especialistas, pais, estudantes e órgãos de proteção.
De acordo com a vereadora, foi muito produtiva a reunião desta segunda-feira com diversas entidades de proteção de Dourados. Durante o encontro ficou decidido que comissão permanente da Câmara Municipal vai ficar responsável por elaborar, junto com o mandato de Daniela Hall, o plano de ação junto a especialistas da área.
O legislativo também unirá forças com projetos de prevenção ao suicídio nas escolas e com entidades como o Corpo de Bombeiros, OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), IFMS (Instituto Federal de Mato Grosso do Sul), Prefeitura de Dourados, entre outros.