“O Brasil abandonou suas fronteiras”. A afirmação é do governador Reinaldo Azambuja, ao defender o plano de segurança de fronteiras e combate ao crime organizado que será implementado pelos estados que compõem o Consórcio Brasil Central. Reunidos em Palmas (TO), na sexta-feira (3), durante o III Fórum de Governadores instaurado a partir do Consórcio, os chefes dos executivos assinaram protocolo de intenções para criar um sistema integrado alinhando aparatos de inteligência e ações de diferentes forças de segurança, entre elas as polícias e as forças armadas.
Criado para promover o desenvolvimento integrado e a sinergia de políticas públicas entre os estados do Centro-Oeste (Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e Distrito Federal), Rondônia e Tocantins, o Fórum abriu espaço na agenda para tratar de ações de segurança pela necessidade de compensar a ausência de políticas federais nas regiões de fronteira, conforme enfatizou o vice-governador e secretário de Segurança Pública de Goiás, José Eliton de Figueiredo, durante apresentação do plano.
Em seu pronunciamento, Azambuja destacou que por possuir 1,4 mil quilômetros de fronteira, metade dela fronteira seca, Mato Grosso do Sul é um dos estados que mais demanda ações de segurança. “A maior contribuição será o compartilhamento das forças de inteligência no combate ao narcotráfico”, disse, lembrando que Bolívia e Paraguai, países fronteiriços com o Estado, são os maiores produtores de cocaína e maconha da América do Sul e abastecem por meio da fronteira os demais estados brasileiros. “Estamos discutindo a segurança pública integrada com o olhar para as fronteiras porque precisamos ter uma barreira nessas regiões”, afirmou.
O Fórum contou também a participação do secretário de Estado de Governo e Gestão Estratégica (Segov), Eduardo Riedel, e do secretário adjunto da secretaria, Jader Afonso, e teve entre suas deliberações a apresentação do Plano de Educação Integral para o Brasil Central. A proposta tem objetivo de mudar a realidade expressa em dados como o percentual de ingresso de jovens brasileiros na universidade, que não passa de 25%, sendo que os outros 75% param no ensino médio, uma formação que prepara unicamente para provas de seleção e a formação universitária.
O estudo propõe a modificação do currículo do ensino médio com a introdução de percentuais que variam de 20% até 37,5% de horas aula voltadas para a formação profissionalizante, dependendo da carga horária do curso. “Nenhum sistema se sustenta com apenas 25% de pessoas qualificadas”, afirmou a especialista em educação e coordenadora do Itaú BBA, Ana Inoue, responsável pelo estudo.
A especialista apontou entre outros dados alarmantes o percentual de 90% dos estudantes que sai dos bancos escolares sem os conhecimentos suficientes em matemática. “Esse modelo de ensino médio só existe no Brasil. Se só tem no Brasil e não está funcionando, precisa ser revisto”, afirma.
A proposta que deverá ser implementada nos seis estados que compõem o Consórcio não é nova para Mato Grosso do Sul. A Secretaria Estadual de Educação (SED) já introduziu metodologia de ensino integrado para a educação profissionalizante que vai ao encontro do projeto de modificação do ensino médio. Interessada em conhecer a experiência, Ana virá ao Estado ainda este mês para avaliar a iniciativa. “Estamos aplicando em cursos voltados para a agropecuária, por exemplo, inclusive com a formação dos professores que atuam na área técnica como prevê o plano”, aponta o superintendente de Políticas da Educação da SED e representante da pasta no evento, Waldir Leonel.
Além das deliberações em segurança e educação, o Fórum de Governadores teve entre suas pautas a criação de um planejamento de turismo regional e a apresentação de uma ferramenta de combate a endemias, a qual terá sua adoção avaliada pelos estados.
Além de Azambuja e Riedel, estiveram presentes no evento os governadores de Goiás, Marconi Perillo; de Tocantins, Marcelo Miranda; do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, e de Rondônia, Confúcio Moura. O vice-governador do Maranhão, Carlos Brandão, participou como convidado. A próxima reunião do Fórum de Governadores será realizada em Mato Grosso do Sul, em agosto.
Brasil Central – Composto pelos estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Tocantins e Rondônia, além do Distrito Federal, o Consórcio Brasil Central foi instaurado em setembro de 2015 com a finalidade de compartilhar soluções e desenvolver ações conjuntas, visando reduzir custos na solução de problemas e elevar a competitividade regional. Também tem entre seus objetivos o reforço na representatividade política e a melhoria das articulações com o Governo Federal. Juntos, os estados concentram população de 18,5 milhões de habitantes e 25% do território nacional. Na agenda estabelecida até 2022 estão projetos como a elaboração de planejamento integrado de eixos logísticos e de infraestrutura e a formulação de um plano de desenvolvimento econômico integrado.