Parte da equipe durante a vistoria às barragens de Corumbá em 2015 (Foto: Imasul) |
“Fizemos apenas uma visita visual, sem equipamentos”, disse o geólogo Luciano Marques Alcântara, um dos profissionais que acompanhou a vistoria realizada pelo Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) nas barragens de Corumbá, em 2015. Ele foi um dos três profissionais do Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) que acompanhou a equipe do órgão ligado à Semagro (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar).
“O principal é saber da base da barragem, no fundo, onde tem perigo de migrar o líquido. As barragens sempre tem um limite, mas as empresas geralmente acabam extrapolando”, alerta o geólogo. As notícias dizem que a represa rompida em Brumadinho estava inativa, mas Luciano acredita que ela ainda estava sendo utilizada.
Sobre as vistorias que acontecem nesta semana em Corumbá, o geólogo crê que serão semelhantes às ocorridas em 2015. “Acredito que vai ser muito parecido com aquilo. O que pude acompanhar, o Imasul não dispõe de equipamentos. E tem que ser equipamento de ponta. Na minha opinião deveriam fazer sondagem e geofísica nas barragens”, declara. “Não adianta só olhar. Foi o mesmo que fizeram em Brumadinho”, adverte.
Outro passo importante para a vistoria, seria o acompanhamento da extração do minério. “Não nos deixaram acompanhar o processo de extração, não entramos dentro da mina, não vimos a planta de extração”, afirma. Segundo ele, tal análise é essencial para os procedimentos de vistoria, pois permite saber quais elementos químicos são utilizados durante a extração para conhecer a composição do rejeito. “Só entramos nos depósitos”, acrescenta.
“Técnicas rudimentares”
Segundo ele, na época, só existia uma barragem entre os locais que recebiam o rejeito de minério em Corumbá, que era a do Gregório, da Mineração Corumbaense Reunida S.A, subsidiária da Vale. Os outros locais eram apenas bacias, que, segundo ele, são depressões naturais encontradas no relevo, onde foram depositados os rejeitos.
“São em torno de 10 ou 11. São antigas. Não poderiam ser chamadas barragens. O DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral) - hoje ANM (Agência Nacional de Mineração) - ia exigir que fizessem adequação”, afirmou, sem saber se as exigências foram feitas e, sendo assim, se as empresas acataram a ordem. De acordo com Luciano, em 2015 tais bacias não estavam em operação e eram secas.
Uma das barragens, aparentemente com capacidade total. |
Luciano explica que barragens são construídas com com técnicas de engenharia, com profissionais que dimensionam as características como talude, espessura e profundidade. Já as bacias, são técnicas rudimentares e não recebem a preparação de solo necessária que normalmente são realizadas nas barragens, como impermeabilização para que o material não seja absorvido pelo solo.
Barragem do Gregório
Durante a vistoria de 2015 realizada na barragem do Gregório, que tem capacidade de 9 milhões de metros cúbicos, a equipe do Imasul e os profissionais do Crea não tiveram acesso ao projeto. “Só apresentaram um PowerPoint”, conta.
Em relação às características, Luciano conta que o rejeito tinha uma textura mais densa do que o que pode observar pelas imagens feitas da lama que escorreu em Mariana. “As de Corumbá são mais secas, em relação à lama. No caso de Mariana, acredito que tinha mais produtos químicos para extrair o minério”, descreve.
Barragem do Gregório, da subsidiária da Vale, que tem capacidade para 9 milhões de metros cúbicos (Foto: Imasul) |
O geólogo explica que no Maciço do Urucum o minério é mais rico, “quase não tem impureza em relação à Mariana”, por isso, passa por um processo mais básico de extração. Na época, a empresa subsidiária da Vale realizava bombeamento da água acumulada na represa.
Apesar de não ter muita lama agregada ao rejeito, Luciano adverte que ainda assim a barragem é preocupante. “Não é que não tem perigo. Tem perigo, sim” enfatiza. “Criaram uma simulação, fizeram teste em laboratório. Fiquei sabendo que receberam consultoria de uma empresa. Criaram barreiras para conter o rejeito no vale, com o próprio rejeito. Mas não soube de nenhum outro trabalho depois disso”.
Destinação - Para o profissional, a solução para o problema das barragens seria a destinação do rejeito. “Deveriam encontrar um fim para material. Poderia ser usado na construção civil. Para tudo tem jeito. Estamos em uma época em que tudo pode ser reciclado. O minério poderia ser agregado ao concreto”, exemplifica.