A polícia fecha o cerco à nova rota do tráfico internacional de cocaína para o Brasil, via Paraguai, interceptando a entrada de 940 quilos do entorpecente. São aproximadamente R$ 25 milhões em drogas, em direção à Europa, após um “passeio logístico” em território paraguaio. Tradicionalmente, a cocaína boliviana entrava por Corumbá, de onde seguia para os portos marítimos e depois para a Europa. Porém, o acirramento da fiscalização pela BR-262 teria forçado os traficantes a saírem pelo Paraguai, entrando posteriormente em Mato Grosso do Sul, por Ponta Porã ou outros municípios da fronteira seca.
Equipes da Segurança Pública realizam operação na região de fronteira - Foto: Divulgação |
Desde sábado (19), a Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) realiza uma grande operação na faixa de fronteira com o Paraguai, para reprimir o tráfico e também impedir que a crescente guerra entre grupos criminosos que acontece no país vizinho se alastre para o lado brasileiro.
A apreensão dos 940 quilos de cocaína aconteceu na madrugada desta terça-feira, no Posto Capey, em Ponta Porã. Equipe da Polícia Rodoviária Federal (PRF) barrou, com a droga, um veículo BMW X5, dirigido por Ademir Amaro da Silva, 37. O entorpecente pertencia à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) e seguiria para o exterior. O motorista declarou que se dirigia a Dourados e entregaria a carga no Trevo da Bandeira, ponto de conexão entre as BRs 463 e 163.
De acordo com a polícia, acredita-se que a apreensão foi possível neste momento também por conta do intenso combate ao tráfico realizado por autoridades paraguaias, em especial a Secretaria Nacional Antidrogas (Senad). O grupo criminoso teria se sentido acuado e, entre correr o risco de perder a carga milionária que se encontrava depositada na fronteira, teria decidido se arriscar e enviá-la imediatamente ao exterior, pelo Brasil. Porém, a apreensão acabou acontecendo do lado brasileiro.
“CAVALO DOIDO”
No caso desta terça-feira, os traficantes teriam se arriscado e transportado uma grande carga, sem muito planejamento. Pela avaliação, os 940 quilos de cocaína foram despachados às pressas, num “cavalo doido”, em único veículo, porque os traficantes haviam sido forçados a deixar o Paraguai, em razão das operações da Senad. Por este motivo, o carregamento estava em uma BMW e não escondido em meio a cargas de outros produtos ou em fundos falsos de carretas, como geralmente acontece.
Para policiais que atuam na região, o ideal é que houvesse condição para uma fiscalização de saturação, tanto nos pontos de entrada da droga, junto aos 16 mil quilômetros de fronteiras brasileiras, quanto de saída, especialmente nos portos de Santos (SP) e Paranaguá (SP).
O Paraguai é considerado estratégico na rota do tráfico, tanto da maconha largamente produzida no país quanto da cocaína vindo de outros países. Por sua localização geográfica, funciona como base do tráfico da droga produzida na Bolívia, no Peru e na Colômbia. No Paraguai, a cocaína é preparada e distribuída para o Brasil e países da África e da Europa. Nos grandes carregamentos, o Brasil é um corredor.
GANHOS ALARMANTES
Ao enviar o entorpecente para fora, os lucros do crime organizado tornam-se alarmantes. A cocaína é adquirida nos países produtores – como Bolívia, Peru e Colômbia – por valores que variam de U$S 2,5 mil a U$S 3 mil o quilo (em torno de R$ 11,4 mil). O valor se refere à droga “tipo exportação”, com pureza acima de 90%, exigência no exterior.
Já na Europa, o quilo de cocaína é vendido por cerca de € 25 mil a € 30 mil (em torno de R$ 110 mil). Desse valor, são abatidos custos de transporte e logística. Descontadas as despesas, a estimativa da polícia é de que a exportação de um quilo de cocaína renda cerca de R$ 26 mil.
NÚMEROS
Quase quatro toneladas de cocaína foram apreendidas somente pela PRF, em Mato Grosso do Sul, durante todo o ano passado, com três grandes apreensões. Foram 226 quilos e depois 295 quilos, em Água Clara. Em setembro, com auxílio de cães farejadores, foram apreendidos 223,8 quilos na BR-060, em Sidrolândia.
Também em 2018, em maio, policiais do Departamento de Operações de Fronteira apreenderam uma carreta transportando 220 quilos da droga, que seria levada para o Paraná. A maior apreensão de cocaína no Estado aconteceu em 2015, em Corumbá, onde carregamento de 1,5 tonelada foi apreendido pela Federal.