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SEGUNDA FEIRA, 25 DE NOVEMBRO DE 2024
18 de AGOSTO de 2018 | Fonte: G1

Alianças nos estados contrariam 12 das 13 chapas presidenciais

O G1 analisou as ligações em torno de 199 candidatos a governador para ver como partidos que são adversários na disputa pela Presidência se aliam para tentar conquistar governos estaduais.

Dos 35 partidos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 31 participam da eleição para a Presidência, agrupados em 13 candidaturas de partido único ou coligações. Mas, se eles são adversários no plano nacional, a situação é diferente nos estados, segundo uma análise dos dados das chapas nacionais e de 199 candidaturas aos governos dos estados e do Distrito Federal feita pelo G1.

 

As informações foram obtidas junto aos próprios partidos e nas atas que eles entregaram à Justiça Eleitoral e mostram as diferentes relações entre as legendas a partir de cada chapa presidencial. Foram levadas em conta as alianças formalizadas em coligações ou não.

 

De acordo com especialistas ouvidos pelo G1, alguns motivos explicam a aparente incoerência entre as alianças dos partidos:

 

* A união dos partidos em torno de nomes, e não de ideologias

* A prevalência dos interesses regionais nas campanhas para governador

* O grande número de partidos políticos

* A extensão territorial do país

* Eles também dizem que esses fatores fazem com que as discrepâncias pouco influenciem o voto para presidente (leia mais no fim da reportagem).

 

O resultado é um emaranhado de alianças que transcendem qualquer definição do espectro político nacional:

 

Veja a situação detalhada de cada candidatura à Presidência da República, em ordem alfabética:

 

Álvaro Dias (Podemos)

A chapa de Álvaro Dias tem aliança nos estados com partidos de 8 chapas adversárias na disputa da Presidência: Ciro, Daciolo, Meirelles, Marina, Lula, Bolsonaro, Alckmin e Goulart Filho.

 

O Podemos oferece apoio a 21 candidatos a governador, mas nenhum deles é de partidos que participam de sua coligação em nível nacional. Além disso, a sigla é cabeça de chapa para o governo em 3 estados, em alianças que receberam o apoio de 12 partidos, inclusive 4 que lideram chapas na disputa nacional: MDB, Rede, Patriotas e PPL.

 

Cabo Daciolo (Patriota)

O Patriota concorre sozinho à Presidência, mas a situação é diferente nos estados. A sigla só tem um candidato a governador, em Santa Catarina, que se aliou ao PMN localmente. Mas o Patriota oferece apoio ao PMN e a outros 13 partidos em 25 estados. Cinco são cabeças de chapa de adversários na disputa presidencial: MDB (Meirelles), Podemos (Álvaro Dias), PSDB (Geraldo Alckmin), PSL (Jair Bolsonaro) e PT (Lula).

 

Ciro Gomes (PDT)

Os partidos da coligação de Ciro Gomes (PDT e Avante) se aliam regionalmente a 8 candidaturas presidenciais adversárias. Em 9 estados, o PDT dá apoio a 19 dos demais 33 partidos que não estão em sua chapa nacional. Já os 2 candidatos do Avante a governos não recebem apoio do PDT.

 

Geraldo Alckmin (PSDB)

A coligação do PSDB de Geraldo Alckmin na disputa presidencial é a mais numerosa na eleição deste ano. Os 9 partidos da chapa oferecem apoio um para o outro em vários estados, mas eles também travam alianças com seus adversários em nível nacional. Só o PSDB aceitou o apoio local de 7 chapas rivais para a Presidência. Já os partidos coligados deram ou receberam apoio inclusive do PT, principal rival dos candidatos tucanos desde a eleição de Fernando Henrique Cardoso em 1994. Das siglas com candidato a presidente, as agremiações reunidas por Alckmin só não se ligam com o PSTU de Vera Lúcia e o Novo de João Amoedo.

 

Guilherme Boulos (PSOL)

O PSOL, de Guilherme Boulos, se aliou ao PCB para disputar a Presidência. Em nível regional, essa aliança se repete em 15 estados, sempre com o PCB oferecendo apoio ao candidato psolista. Mas o PSOL também recebe apoio de 2 partidos de rivais nacionais: o PPL, do candidato à Presidência João Goulart Filho, no Pará, e o PSTU, de Vera Lúcia, em Roraima.

 

Henrique Meirelles (MDB)

A coligação de Henrique Meirelles tem 2 partidos, o MDB e o PHS. Mas, nos estados, as siglas juntas darão e receberão apoio a 28 dos outros 33 partidos existentes no país, inclusive os de 9 chapas presidenciais rivais. 12 dos 13 candidatos a governador do MDB recebem apoio de pelo menos um de 26 partidos diferentes – São Paulo é a única exceção. Novo, PSOL, PCB, PSTU e PCO são as únicas siglas que não se aliaram a MDB ou PHS nos estados.

 

Jair Bolsonaro (PSL)

Jair Bolsonaro (PSL) tem um único partido aliado para disputar a Presidência: o PRTB. Mas, nos estados, essas duas legendas se aliam a partidos de outras 9 chapas nacionais. O PSL se aliou regionalmente com 17 partidos que, nacionalmente, integram ou lideram chapas adversárias, como Patriota e PDT. O PRTB, com 12, inclusive os cabeças de chapa PT (Lula), MDB (Meirelles), PSDB (Alckmin), Podemos (Dias) e Rede (Marina Silva).

 

João Amoedo (Novo)

O Novo, do presidenciável João Amoedo, lançou 5 candidatos a governador (DF, MG, RJ, RS e SP). Assim como na disputa nacional, o partido não fez coligação com nenhuma outra sigla nas disputas estaduais, seja recebendo ou dando apoio durante a campanha eleitoral.

 

João Goulart Filho (PPL)

João Goulart Filho, do PPL, concorre sem apoio de outros partidos à Presidência da República e seu partido não lançou candidato a governador. Mas, nas disputas estaduais, a sigla se aliou a outras 9, que participam de 8 chapas de adversários na campanha presidencial.

 

José Maria Eymael (DC)

Assim como Goulart Filho, José Maria Eymael, concorre sozinho à Presidência. Mas o DC, seu partido, distribuiu apoio a 13 partidos diferentes em 23 estados, sendo que todos, menos o PSB, estão em lados opostos na disputa nacional. A sigla tem 2 candidatos para governador, no Piauí e em São Paulo, mas não recebeu apoio de nenhum outro partido.

 

Luiz Inácio Lula da Silva (PT)

Assim como a chapa de Meirelles, a chapa PT-PCdoB-PROS, que lançou Lula como candidato à Presidência, tem alianças com 28 dos 32 partidos restantes – as exceções são Novo, PCB, PSTU e PCO. Eles participam de 9 chapas adversárias. De 20 partidos que, em 2016, tiveram pelo menos metade de seus congressistas votando a favor do impeachment de Dilma Roussef, o PT aceitou o apoio de 15 para seus candidatos ao governo. Em 4 estados o partido não conta com alianças.

 

Marina Silva (Rede)

A coligação de Marina Silva (Rede-PV) para a Presidência da República não se repete na maior parte dos casos estaduais. A Rede lançou 11 candidatos a governador, mas em 4 casos houve coligação com outras siglas, e em um deles o PV ofereceu apoio. Já o Partido Verde tem 2 candidatos ao governo, e só um conta com apoio da Rede. Porém, a legenda de Marina faz alianças com 15 outros partidos, enquanto o PV se ligou a 18 siglas. No total, eles se relacionam a 8 adversários na disputa presidencial.

 

Vera Lúcia (PSTU)

A candidatura de Vera Lúcia pelo PSTU não recebe apoio de nenhum outro partido na disputa presidencial, assim como as 12 candidaturas que o partido lançou para governos estaduais. Apesar de não receber apoio de nenhuma sigla, o partido decidiu apoiar o PSOL em um estado: Roraima.

 

Por que isso acontece?

O emaranhado de siglas e apoios mostra como a eleição é centrada em nomes, não em projetos. E essa preferência por escolher pessoas não parte apenas do eleitor, explica o professor Ricardo Caldas, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (Ipol-UnB). "Se você olha para os partidos, verá que eles mesmos não fazem escolhas ideológicas, e sim, por pessoas", afirmou.

 

"A maior parte dos eleitores não tem ideologia. As coligações apenas refletem isso." - Ricardo Caldas, professor da UnB

Além disso, as alianças nos estados são feitas com base em interesses regionais – que nem sempre são iguais aos interesses políticos nacionais. "Os apoios levam em consideração aliados e inimigos políticos no estado", acrescentou Caldas.

 

As alianças estaduais influenciam o voto para presidente?

Pouco, afirmou Caldas. O especialista não crê que o eleitor veja o jogo das alianças políticas estaduais como algo muito relevante. "As dinâmicas locais não interferem nacionalmente. O Brasil dá muita liberdade – um candidato ou partido não tem que apoiar todo mundo o tempo todo", comentou.

 

O cientista político Pedro Fassoni Arruda, professor da PUC-SP, concorda e diz que se trata de uma "individualização do voto". Para ele, a pulverização do espectro político em 35 partidos em um país extenso como o Brasil leva as siglas a não seguirem sempre a mesma linha em todos os estados. "Os partidos não são monolitos. Eles também têm conflitos intrapartidários."

 

"A disputa em um estado não tem necessariamente a ver com a eleição presidencial, e essa é apenas uma das variáveis em jogo", comentou Arruda.

 

Por que isso importa?

Porque os interesses eleitorais envolvem outros interesses, como aponta o cientista político Pedro Arruda.

 

"Construir alianças perpassa pela discussão de planos de governo e também de cargos. Passa por indicações, estatais, secretarias e base parlamentar", explicou Arruda.

 

Caldas afirma que a definição das coligações se tornou uma "disputa de cargos" e "troca de favores", e diz que "falta uma reforma política para dar um mínimo de consistência aos partidos".



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