Ex-senador falou sobre seu período preso, a nova vida e o passado político. Também criticou o PT e o comportamento do Senado quando foi cassado
"Eu estou de novo no jogo", afirma o ex-senador Delcídio do Amaral (ex-PT, hoje no PTC). Em entrevista ao Campo Grande News, nesta terça-feira (dia 14), o ex-parlamentar criticou a falta de renovação na política, comentou sobre o período em que esteve preso e disse que ainda há chance de ser candidato nesta eleição.
Com a cassação dos direitos políticos em virtude da perda do mandato, Delcídio aguarda desdobramento do recurso de sua defesa para tentar, ainda nesta eleição, disputar o parlamento federal. Contudo, se não for possível ser candidato agora, a intenção é "entrar" na campanha mesmo assim, apoiando os candidatos de seu novo partido. "Eu fui expulso de campo, agora estou no banco de reserva. Qualquer bola que vier eu chuto no gol".
Diferente do cenário da última eleição para governador [2014], onde era o favorito para comandar o Estado, Delcídio do Amaral faz avaliações sobre o pleito atual. Considera que o que se vê, a nível estadual e federal, é "mais do mesmo" e que a renovação tão desejada pelas pessoas não vai sair agora.
"Tem uma música do Cazuza, que diz assim 'eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades'. Não mudou nada e num cenário extremamente confuso".
'Companhias' - Hoje, "de bem com a vida", em suas próprias palavras, o ex-senador falou sobre os três meses que ficou preso. "Eu tinha uma disciplina muito grande. Acordava muito cedo, me exercitava, trabalhava intensamente em cima do meu processo, junto com meus advogados, mas boa parte sozinho".
A leitura também foi companhia. Naqueles dias, ele afirma que leu a Bíblia e livros referentes à geopolítica. Entre os temas, história do Brasil, América do Norte e Europa. "Diz que cabeça vazia é morada do diabo. Tinha de ocupar a cabeça, eu queimava energia o dia todo", relata.
Nova vida - "Eu passei a levar uma vida mais contida, diferente da vida que sempre levei. Sou um cara do mundo, já andei o mundo todo. Imagina levar uma vida mais limitada no ponto de vista social, a gente sofre".
Atualmente, entre a casa em Campo Grande e a fazenda no Pantanal, a nova vida do ex-petista se divide desta forma. Ele relata que, diferente da vida agitada que levada, o período pós prisão foi "uma experiência excelente". "A gente precisa procurar, entender e tirar o máximo possível de lição".
Delação - O senador também comentou sobre o acordo que fechou para tentar amenizar sua situação. Esclareceu que sua absolvição não tem relação com a colaboração, mas com o processo judicial. "Simplesmente ruiu".
"Eu fui gravado por terceiros para salvar o papai", disse em referência ao filho de Nestor Cerveró, Bernardo Cerveró, que é com quem o ex-senador conversa na gravação, que culminou em sua prisão.
Em 2015, sob a acusação de tentar comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, o ex-parlamentar foi preso. A PGR (Procuradoria-Geral da República) usou depoimentos da delação premiada de Nestor Cerveró e do filho dele, Bernardo Cerveró, para pedir a prisão do então senador.
"Aquela gravação, a última frase ninguém divulgou, quando eu digo: 'existe um bom direito, que pode vir a defender, então ele tem que sair dentro das vias legais'. Essa frase não apareceu".
Lula, Dilma e PT - Nos instantes finais da entrevista, Delcídio do Amaral respondeu sobre a relação entre ele, os ex-presidentes da República, Lula e Dilma Rousseff, principalmente durante os desdobramentos da prisão e posterior cassação do mandato pelo Senado.
"A política é implacável, quando acontece algo como eu enfrentei, o político pensa rapidamente. No meu caso, o pensamento foi: a situação está difícil, vamos deixar o Delcídio ir embora para nos salvar".
Para o ex-parlamentar, naquele momento, o Congresso "abriu as portas", o que resultou em notícias de mais escândalos. "Hoje tem 30 senadores pendurados. Quando veio o caso mais emblemático, que foi do Aécio [senador Aécio Neves], eles [PT] pensaram de forma oposta do que pensaram em relação a mim. No meu caso foi, 'vai o Delcídio e fica nós'. No caso do Aécio foi 'segura o Aécio se não nós é que vamos".
Mesmo apontando que o tratamento foi diferente dentro da cúpula petista, o ex-senador afirma que não guarda mágoa, não acredita em traição dos ex-presidentes, mas entende que a estratégia adotada pelos petistas naquele momento foi o "início da queda, inclusive do impeachment da Dilma".
"As pessoas que cassaram meu mandato, ou naquela ocasião mantiveram minha prisão, votaram a favor do Áecio com as malas de dinheiro. Dá para entender? Eu, hoje, fui absolvido. E aqueles que me condenaram?".