Um professor de Matemática da Escola Estadual Odete Ignez Resstel Villas Boas, em Nioaque, distante 179 quilômetros de Campo Grande, foi afastado e virou alvo de investigação após 20 anos de suspeitas de cometer abusos e assédio sexual contra alunas adolescentes com idades entre 13 a 17 anos. O processo tramita na esfera administrativa e criminal desde outubro do ano passado.
O fato chegou ao conhecimento do Ministério Público Estadual e da Polícia Civil por meio de denúncias feitas por um grupo de mães. Conforme a promotora Ana Carolina Lopes de Mendonça Castro, a diretoria escolar sempre tentava convencer os pais a não denunciar o fato às autoridades públicas, dizendo que as meninas seriam expostas e o caso não daria em “nada”.
“O que nos causou surpresa é que o professor já respondeu sindicância na escola e nunca havia sido afastado, pois a direção tentava resolver a situação dentro do âmbito escolar como se o problema fosse doméstico e não em uma instituição pública”, explica.
Em muitas vezes, a direção da época argumentava que poderia ser fantasia das adolescentes, que estavam com a sexualidade aflorada. “A direção tratava as vítimas como se elas fossem culpadas. Isso é um caso emblemático de desvalorização da palavra da mulher, que não deveria acontecer, principalmente em um ambiente escolar.
O professor tem dois vínculos com a escola. Em um dos períodos já foi aposentado. No entanto, no começo deste ano, o nome dele chegou a aparecer na lista de duas turmas do ensino fundamental. Questionada pelo Ministério Público sobre a situação, a escola respondeu que não havia causas legais para o afastamento nem professor para substituí-lo. Os alunos chegaram a perder aula, mas outro professor foi contratado.
A reportagem do Campo Grande News tentou contato com a escola, mas foi informada de que o diretor só poderia ser encontrado após às 14h30.
Crime - Conforme denúncia, o suspeito se aproveitava do cargo que ocupava para constranger as alunas por meio de investidas com a finalidade sexual, além de conceder indevidamente notas às adolescentes, independente do desempenho delas em provas e atividades.
Também há relatos de condutas mais graves como vocabulário constrangedor, palavrões ou termos chulos de duplo sentido sempre com viés sexual ou erótico direcionado para as meninas, com pretexto de que era brincadeira. “Ele puxava as alunas para próximo do corpo dele. Uma das vítimas chegou a dizer que tinha nojo do professor. Outra menina interrompeu os estudos em razão dos abusos sofridos”, conta a promotora.
Documentos apreendidos mostram as denúncias e alertas realizadas pelas alunas e pais aos professores da instituição, a partir de 1995 sob diferentes diretorias. O comportamento do professor é conhecido há anos na cidade.