A falsa advogada presa nesta quarta-feira (14), durante a Operação Raposa Kaiowá, desencadeada pela Polícia Federal, aplicou golpes contra índios de aldeias de pelo menos sete municípios de Mato Grosso do Sul. A golpista foi presa em sua casa em Ponta Porã, a 323 km de Campo Grande.
O delegado Felipe Viana Menezes, que conduz as investigações, disse ao Campo Grande News que a falsa advogada migrava de aldeia em aldeia e começou a aplicar os golpes em 2012.
Além de ajudar os índios a conseguirem aposentadoria, algumas de forma fraudulenta e com uso de documentos falsos, a golpista fazia empréstimos consignados em nome das vítimas e ficava com o dinheiro.
“Os indígenas só descobriam que tinham caído em um golpe quando percebiam o desconto do empréstimo da aposentadoria”, afirmou o delegado.
Durante o cumprimento dos mandados de prisão preventiva e de buscas na casa da falsa advogada, na manhã de hoje, os policiais federais encontraram vários documentos originais de indígenas.
Documentos retidos – Segundo o delegado Menezes, isso comprova que a golpista retinha os documentos dos índios para garantir que só ela sacasse o dinheiro dos empréstimos consignados. “Encontramos também diversas procurações para saques de consignados . Notebook e celular também foram apreendidos”.
A PF descobriu que a falsa advogada começou a aplicar os golpes em aldeias de Bonito e Aquidauana em 2012. No ano seguinte ela passou a atuar em Amambai, município com segundo maior número de índios em Mato Grosso do Sul – o primeiro é Dourados.
Conforme a Polícia Federal, em 2015 e 2016, a golpista atuou em Antonio João, Bela Vista e Paranhos e nos últimos meses estava “trabalhando” com índios da aldeia Guaiviry, em Aral Moreira.
“Ela chegava nas aldeias, se apresentava como advogada e falava que ia ajudar os índios a tirar documentos. Em alguns casos os índios já tinham direito ao benefício, mas ela se aproveitava da situação para fazer os empréstimos e ficar com o dinheiro”, explicou Felipe Menezes.
O caso chegou à Polícia Federal após a golpista, que não teve o nome divulgado, começar a falsificar documentos para dar entrada no pedido de aposentadoria dos índios. “Ela levava os indígenas no cartório, fazia identidade, fazia carteira de trabalho e CPF, tudo com dados falsos”.
Segundo o policial, a operação já descobriu três casos de aposentadorias obtidas de forma fraudulenta, evitando prejuízo de R$ 600 mil à União. Um dos benefícios foi obtido com documento de um índio que nunca existiu.
A PF ainda investiga se o golpe teve a participação de outras pessoas. O delegado Menezes disse que, pelo menos por enquanto, não existe indício de envolvimento de servidores públicos no crime.
Operação – A operação foi denominada “Raposa Kaiowá” em alusão à característica traiçoeira e oportunista das raposas na captura de suas vítimas. Segundo a PF, situação que se assemelha à astúcia utilizada pela falsa advogada no trato com os índios.
O nome também remete à Operação Coiote Kaiowá, deflagrada pela PF em 2015, em Amambai, para desmantelar esquema de fraudes previdenciárias.