Islam Hamed, brasileiro-palestino de 30 anos, entrou nesta sexta (1º) no 20º dia de greve de fome. Ele está em um presídio na cidade de Nablus, na Palestina, onde cumpre pena. Hamed começou o protesto no dia 11 de abril para exigir que seja libertado e possa vir para o Brasil. O brasileiro-palestino foi preso pela primeira vez quando tinha 17 anos, acusado de atirar pedras em soldados israelenses. Em 13 anos, os intervalos que esteve fora da prisão somam cerca de 18 meses.
Na quinta-feira (30), sua mãe, a brasileira Nádia Hamed, foi visitá-lo no presídio. “Ele perdeu 14 quilos e está pálido. Também não aguenta muito tempo de pé, nem sentado”, disse, ao falar com a reportagem da EBC. Segundo o Itamaraty, por causa da saúde fragilizada, Hamed tem recebido visitas médicas diárias. Ele voltou a beber água, resultado de uma negociação com a universidade onde estuda religião. A instituição só permitiria que ele fizesse os exames finais do curso se voltasse a ingerir líquidos.
O impasse para a libertação do palestino-brasileiro está em relação às garantias de segurança que ele teria ao deixar a prisão em Nablus. O embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, disse que o governo palestino não pode garantir a integridade física de Hamed e exige que a família assine um termo de responsabilidade. “Estamos na melhor disposição de entregar ele à família, mas no momento que família aceitar o termo de responsabilidade. Ele está livre, mas dependente de Israel se vai deixá-lo sair do país ou se não vai machucá-lo. Ele corre realmente risco de ser detido mais uma vez”, explicou.
Segundo Ibrahim, a Autoridade Palestina está em contato com Israel para negociar a saída de Islam para o Brasil, no entanto, ele teria “pendências” com o governo israelense. “Vamos seguir negociando pelas vias diplomáticas. É o paradoxo da vida. Estamos sofrendo essa situação faz 66 anos. Até o presidente da Palestina, para sair, precisa de autorização especial de Israel”, ressaltou o embaixador.
No entanto, a família recusa-se a assinar o termo de responsabilidade proposto pela Autoridade Palestina. “Não posso assinar esse documento. Seria a mesma coisa que assinar um atestado de óbito para meu filho. Não podemos garantir a segurança dele. Essa garantia tem que ser dada pelos governos”, explicou Nádia. Ao falar dos governos, ela se refere a Israel, à Palestina e ao Brasil. Nádia é brasileira, mas se mudou para a Palestina ainda adolescente, onde se casou e teve quatro filhos. Dois deles, incluindo Islam, têm nacionalidade brasileira.
A Assessoria de Imprensa da Embaixada de Israel no Brasil informou que o governo israelense está ciente do caso de Islam Hamed, mas não deu detalhes sobre as negociações para a sua libertação e nem soube informar quais seriam as pendências com o governo israelense. No entanto, esclareceu que a legislação do país não prevê a pena de morte.
O Itamaraty, por meio da assessoria de imprensa, informou que o governo brasileiro vem negociando a repatriação de Islam Hamed. Mas não esclarece se o Brasil vai assumir a responsabilidade pela segurança dele, nem como estão sendo feitas as negociações com o governo de Israel, que controla as fronteiras da Palestina.
Na quinta-feira (30), a família de Hamed no Brasil enviou uma carta à presidenta Dilma Roussef pedindo a intervenção direta no caso. “O brasileiro-palestino Islam Hamed, nosso familiar, está preso injustamente na Palestina. Apelamos que intervenha diretamente nas negociações em curso por salvo-conduto a ele”, diz a carta. No dia 15 de abril, a família já havia registrado o segundo pedido de ajuda ao governo brasileiro. O primeiro foi em 2013. Os parentes também iniciaram uma campanha pela liberdade do brasileiro nas redes sociais.