Belisário é avô da Luiza, de 8 anos, e do Noah de 1 ano; Alvelina é avó do Eric, de 6 anos; e Anita é avó do Vitor, também de 6 anos. Além de serem avós apaixonados pelos netos, o que estes três personagens têm em comum é uma outra paixão, pela corrida, que os coloca em movimento e traz diversos benefícios para quem é idoso.
O aposentado Belisário Pessoa da Rocha, de 65 anos, também pedala e pratica corrida três vezes por semana. Ele começou há quatro anos por incentivo do filho e hoje colhe os resultados da atividade. “Corrida é tudo para mim. Traz benefícios em tudo, no humor, melhora o astral, é excelente. Corro três vezes por semana, de 10 quilômetros (km) a 15 km, depende muito no meu ritmo”.
Ele está no grupo de corrida do Sesc Pinheiros, na capital paulista, onde também estão a Alvelina, a Anita e muitos outros idosos que neste Dia dos Avós, celebrado hoje (26), podem comemorar além dos netos, a saúde que a atividade física proporciona.
No momento o grupo não tem se reunido por conta da pandemia. Belisário lembra que ficou seis meses sem fazer nenhuma atividade física quando começou a isolamento social, ano passado. “Fui ficando muito estressado, chato mesmo, depois voltei a correr sozinho”. E ele tem um lema que o faz acordar às 5h para correr. “Nem sempre teremos motivação. Por isso é fundamental que tenhamos sempre disciplina. Esse é meu lema, não podemos parar”.
Colega de grupo de corrida, a autônoma Anita Hermann Gionfredo, de 59 anos, também tem um lema. “Não me preocupo com a idade é a idade que se preocupa comigo!”. Ela pratica corrida há dez anos. “Minha filha me chamou para participar de uma prova de 5 km, a Lotus, só para mulheres, mas eu nunca havia corrido. Fazia academia e para mim foi um desafio, mas no meio daquela multidão foi uma alegria, todos felizes, isso me contagiou e desde então não parei”. Ela não parou e já até levou o neto Vitor, na época com dois anos, para sua primeira corrida infantil.
A corrida também ajudou Anita com um problema de saúde. “Tinha endometriose e com a prática associada a exercícios focados para corrida, eu melhorei. Fora a disposição que ganhei, não me sinto com a minha idade”, revela. Ela corre de duas a três vezes na semana e recomenda o exercício. “A corrida é qualidade de vida, é prazerosa, só fazendo para entender”. Além de correr, ela ainda cursa o último semestre da faculdade de pedagogia.
Já a pedagoga Alvelina Machado Costa (imagem de destaque), de 61 anos, corre desde 2011 e coleciona várias medalhas de competições em que participou, tendo alcançado vários pódios como a Corrida Sargento Gonzaguinha e a Ultramaratona de Revezamento Bertioga x Maresias, por exemplo.
Ela tinha três hérnias de disco e sentia dores nas costas. Com orientação médica, iniciou a prática e, hoje, conta que a corrida trouxe outros benefícios. “A corrida traz qualidade de vida, educação corporal, disposição, desafios pessoais, novas amizades e educação alimentar”. Ela corre de quatro a cinco vezes por semana e ainda pedala aos domingos. Alvelina recomenda a atividade para as pessoas da terceira idade: “basta a pessoa aceitar o desafio da mudança”.
Benefícios
A atividade física para idosos é de importância multifatorial, diz o profissional de educação física e instrutor de atividades aquáticas da Bodytech Goiânia, Alexandre Ricardo da Silva. “Destaco os benefícios na mobilidade, que a curto prazo já proporciona maior independência e autonomia nas atividades cotidianas, o controle e prevenção de diversas doenças e o bem estar físico e mental”.
A corrida é uma boa sugestão, mas o profissional destaca que existem treinos que atendem de forma segura a terceira idade. “A indicação deve ser feita individualmente, de acordo com o gosto, histórico e necessidade de cada aluno. A individualização e adaptação dos treinos, melhora a adesão ao processo proposto e proporciona resultados significativos de curto e médio prazo”.
Colega de profissão dele, o professor de Educação Física, Wagner Roberto Benevenuto Junior, concorda. “A atividade mais indicada é a que mais agrada a pessoa, pois facilita a permanência, sem que se torne uma obrigação. Desde que permitida pelo médico, toda atividade física é benéfica”, diz Wagner, que também é fisioterapeuta.
Ele destaca que nesta faixa etária as principais lesões são as ortopédicas, como fraturas de ossos longos (o fêmur, principalmente), musculares e articulares (tendinites e artrose) e ainda as doenças socioemocionais, como a depressão. “A atividade física é essencial em todas as idades, mas na terceira idade ela é fundamental para a melhora física, mental e social”, reforça Wagner.
Nunca é tarde para começar
Antes de iniciar uma atividade física, deve-se consultar um médico para avaliar o histórico clínico da pessoa. Após o aval médico, é importante procurar orientação de profissionais de educação física ou fisioterapeutas.
O fisioterapeuta especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Daniel Vicentini de Oliveira, explica que a atividade física não se resume a um esporte específico, e engloba qualquer ação que movimente o corpo: “a caminhada é uma boa opção além de exercícios domésticos: sim, limpar a casa é um bom exemplo de atividade física!”, sugere Daniel, que também é profissional de educação física e doutor em Gerontologia pela Universidade de Campinas (Unicamp).
Ele reforça que não há uma modalidade de exercício físico específica para os idosos. “Cada idoso tem um objetivo particular com a prática do exercício físico. Alguns terão mais resultados com exercícios recreativos, outros com exercícios de força, outros com os aeróbios. Tudo dependerá do objetivo e necessidade do idoso, além de sua capacidade física e motivação. Posso citar alguns exemplos como musculação, treinamento funcional, dança, Pilates, exercícios aquáticos, dentre outros”.