O aumento de casos do novo coronavírus tem mexido com o mercado financeiro internacional e há uma preocupação mundial com os impactos econômicos. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) reduziu a previsão de crescimento da economia mundial para 2020, passando a projetar um crescimento de 2,4%, menor expansão desde 2009. A desaceleração da economia chinesa exige do Brasil e de Mato Grosso do Sul atenção em relação à diminuição da demanda pelas principais commodities brasileiras e da produção industrial.
A China é a maior exportadora e a segunda maior importadora do mundo. No ano passado, o país asiático foi destino de 42,9% das exportações do agronegócio de Mato Grosso do Sul, especialmente produtos florestais, complexo de soja e carnes. O país asiático representa 13% de tudo o que o Estado importa, ou seja, o Estado não é completamente dependente dos insumos do país asiático.
O consultor em comércio exterior Aldo Barigosse explica que a China é a maior propulsora em termos econômicos e que a mudança na demanda do país afeta Mato Grosso do Sul. “Se um grande comprador como a China reduz a compra dos nossos insumos, que eles usam nas indústrias deles, isso afeta o preço mundialmente. No caso da soja, por exemplo, a oferta fica maior com uma demanda menor, então o preço tende a cair. O produtor vendendo menos vai produzir menos e empregar menos, e toda a cadeia no que se refere à soja vai render menos. Por um outro lado, a gente pode focar no mercado doméstico e a gente pode ter uma oferta maior para o mercado interno”, explicou.
De acordo com o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), Mauricio Saito, ainda não se pode mensurar os demais impactos econômicos nas atividades econômicas envolvendo serviços, comércio e indústria. “No Brasil e em MS, a situação pode ser atenuada por meio de uma política econômica consistente, uma posição externa sólida, com abertura de novos mercados, e pela inflação bem ancorada. O mercado é dinâmico. É preciso estar atento a essa movimentação, às cotações e melhores modalidades de negociação. O Sistema Famasul segue monitorando os possíveis impactos econômicos e analisando os dados oficiais das exportações do mercado de MS”, afirmou Saito.
O secretário-adjunto da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Ricardo Senna, acredita que o Estado vai se recuperar deste momento. “Essa situação está gerando instabilidade em função do pânico nos mercados financeiros. A produção de grãos de MS será recorde. Ou seja, causará impacto, sim, mas estamos aumentando nossa produtividade, estamos abrindo e reconquistado mercados, portanto, no longo prazo, nossa economia se recuperará desse susto momentâneo”, contextualizou.
MERCADO FUTURO
Conforme o Boletim Casa Rural, divulgado nesta terça-feira, houve desvalorização nas cotações da Bolsa Internacional de Chicago (CBOT), entre 2 e 9 de março de 2020. Os contratos com vencimento em março/2020 e maio/2020 encerraram o período com desvalorização de 3,03% e 3,44%, cotados a US$ 8,64 e US$ 8,70 por bushel, respectivamente. E os contratos de julho/2020 e agosto/2020 desvalorizaram 3,49% e 2,87%, encerrando o período cotados a US$ 8,79 e US$8,88 por bushel. As cotações externas passaram por choque de preços causado pela desvalorização do petróleo, o qual refletiu nas cotações de commodities de forma generalizada.
Em fevereiro de 2020, Mato Grosso do Sul exportou 40,2 mil de toneladas de soja em grãos, retração de 78,91% em relação a 2019. As receitas totalizaram US$ 16 milhões, retração de 79,60% em relação a fevereiro de 2019.
INDÚSTRIA
Outro setor que pode deve sofrer as consequências do aumento dos casos de coronavírus é a indústria. Mais do que a escassez de insumos da indústria, o principal impacto de uma crise mais longa provocada pelo coronavírus para o Brasil deve ser na balança comercial. A economista do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Fecomércio (IPF-MS), Daniela Dias, destaca que o coronavírus já tem influenciado na balança comercial.
“O País demanda muitos produtos industrializados da China, somos grandes consumidores dos produtos. Mato Grosso do Sul, assim como os outros estados, tem essa dependência (importação e exportação), o que já tem impactado na nossa balança comercial. Em termos de impacto total, teremos uma redução da renda, a vocação natural de MS se volta à exportação dos produtos agropecuários e ao mesmo tempo importamos os industrializados deles”, considerou Daniela.
Segundo o presidente da Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (Fiems), Sérgio Longen, o Brasil registra abalos diretamente no câmbio e, por consequência, na vida econômica do País. A China tem diminuído a produção industrial sistematicamente e, como hoje atende grande parte da produção mundial, acaba refletindo na economia de diversos países.
“Embora o novo coronavírus seja a grande preocupação mundial, deixando muitas vítimas em diferentes países, no Brasil, até o momento, temos menos casos confirmados e nenhum óbito. Diferentemente da dengue, que apenas em Mato Grosso do Sul já tirou 13 vidas, além de 24 mil notificações. A grande chave que vejo para tudo isso é a prevenção, que pode preservar vidas e também a economia e geração de empregos”, disse Longen.
Mais de 109 mil casos no mundo
Conforme informações do Ministério da Saúde, foram mapeados 109,5 mil casos no mundo, além de 3,8 mil mortes. A taxa de letalidade, que estava em 3,39%, subiu para 3,48% em comparação com o balanço anterior. No Brasil, são 34 casos confirmados e 893 casos suspeitos.