O Ministério da Educação ( MEC ) vai nomear o general da reserva Carlos Roberto Pinto de Souza para a coordenação do Exame Nacional do Ensino Médio ( Enem ). Ele será o quarto indicado pelo governo Bolsonaro, em oito meses de gestão, para assumir a diretoria que cuida de avaliações da educação básica dentro do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira ( Inep ), vaga desde maio. Entre as ações executadas pelo departamento está o Enem.
Souza não tem experiência na área de avaliações educacionais, segundo o currículo que mantém na plataforma Lattes. Ele fez doutorado em Altos Estudos Militares pela Escola de Comando e Estado Maior do Exército brasileiro, com um trabalho intitulado “A inteligência e a guerra eletrônica no contexto da guerra da informação”. Tem também mestrado em Estratégia pelo Exército dos Estados Unidos.
O próximo titular da Diretoria de Avaliações da Educação Básica (Daeb) do Inep é atualmente assessor do Exército junto ao Ministério da Ciência e Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) na Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico. Souza foi chefe do Centro de Defesa Cibernética, vinculado ao Ministério da Defesa, quando coordenou a área pela pasta durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos no Brasil, em 2016. Comandou ainda o Centro de Comunicações e Guerra Eletrônica do Exército.
A escolha do militar para a Daeb, uma das mais importantes diretorias do Inep, foi confirmada ao GLOBO pelo MEC. A nomeação deve sair nos próximos dias, segundo a pasta. Procedimentos burocráticos estão em fase final de tramitação.
Internamente, apesar de não ter experiência direta com avaliações educacionais de larga escala, o nome do militar é visto como um quadro que pode ajudar no projeto do Enem Digital, com sua experiência em defesa cibernética e segurança de dados e sistemas. O governo anunciou que quer aplicar o exame totalmente eletrônico até 2026. Pesaram também na escolha, segundo interlocutores, especializações em gerenciamento de projetos e gestão de políticas em inovação que o general tem em seu currículo.
A área técnica do Inep considera que o Enem está encaminhado. A maior preocupação, hoje, é com o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que prevê provas para mensurar a qualidade da etapa escolar. A escolha da empresa que aplicará o exame está nos trâmites finais. Na edição passada, em 2017, essa fase foi concluída em maio. O atraso no cronograma traz receios entre os servidores de que o Saeb não seja integralmente executado neste ano.
O primeiro indicado para a diretoria pela gestão Bolsonaro foi o economista Murilo Resende Ferreira, ligado ao movimento Escola sem Partido e seguidor do ideólogo de direita Olavo de Carvalho. Conforme revelou o GLOBO, Ferreira já chamou professores de desqualificados e manipuladores. A repercussão negativa das declarações levou o governo a procurar outro perfil. Antes de ser nomeado, Resende, de apenas 36 anos, participou de reuniões e circulou pelo Inep, mas ficou oficialmente no cargo por apenas dois dias.
O segundo diretor da Daeb foi o economista Paulo César Teixeira, que ficou pouco mais de um mês na função. Ele deixou o posto por solidariedade ao então chefe, Marcus Vinicius Rodrigues, demitido da presidência do Inep pelo ministro à época Ricardo Vélez Rodríguez.
Depois, a Daeb foi ocupada por Francisco Garonce, que era coordenador-geral de Educação para o trânsito do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Ele, no entanto, foi demitido após quebrar o protocolo de segurança do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), voltado a quem quer obter certificado de ensino fundamental e médio.
Troca-troca
Conforme O GLOBO revelou, Garonce entrou na sala segura do Inep, onde ficam os itens das provas e outros dados sigilosos, para buscar a senha necessária para abrir o CD da prova, que havia sido levado por um servidor à gráfica, em São Paulo, responsável pela impressão do exame. Esse código deveria ter sido memorizado por um outro funcionário do Inep, que também vai ao local, em voo distinto do primeiro servidor.
Em total desrespeito ao protocolo de segurança, Garonce foi mais de uma vez à sala segura e anotou a senha no braço, repassando-a por telefone à subordinada. Em casos assim, o correto seria recomeçar todo o processo a partir de Brasília.
Garonce foi exonerado. O Encceja chegou a ficar ameaçado, segundo o próprio governo, que ao anunciar o problema na segurança da prova afirmou não poder garantir que haveria aplicação em 2019. A data, porém, foi mantida, e o exame está marcado para o próximo domingo.