O fato de Sérgio Cabral ter sido o governador que mais mandou criminosos para prisões federais, em seus quase oito anos à frente do Palácio Guanabara, pesou na escolha da unidade que o receberá. O presídio de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, acabou sendo escolhido pelo Ministério da Justiça por ter o menor número de internos enviados pelo Estado do Rio. Grande parte dos detentos deste presídio é ligada ao PCC, de São Paulo, e a facções do Norte e Nordeste.
Foi difícil, porém, encontrar unidades sem presença expressiva de presos mandados pelo Rio, que respondem por cerca de 30% dos internos nas quatro prisões federais de segurança máxima existentes no país. Os demais, além de Campo Grande, ficam em Cantanduvas (PR), Mossoró (RN) e Porto Velho (RO).
Cabral foi um entusiasta frequente, enquanto governador, do sistema administrado pela União desde a abertura do primeiro estabelecimento prisional, em 2006. O envio de criminosos, com a anuência de seu secretário de Segurança Pública, José Beltrame, servia tanto para diminuir a tensão do sistema carcerário estadual quanto para dar credibilidade às cadeias federais recém-criadas pelo governo de Lula, do qual Cabral era aliado.
A primeira transferência foi do traficante Luiz Fernando da Costa, conhecido por Beira-Mar, com a mensagem de endurecimento da punição aos líderes criminosos. Nos próximos dias, é Cabral quem ocupará uma das celas do sistema federal.
A prisão federal em Catanduvas (PR) rapidamente descartada pelo setor de inteligência do Sistema Penitenciário Federal por abrigar atualmente lideranças do Comando Vermelho, considerada a facção mais organizada do Rio. Muitos dos internos de cadeias federais desse grupo criminoso foram enviados na gestão de Cabral. Beira-Mar é um deles. Mandado em 2006, continua lá até hoje.
Na unidade de Mossoró e Porto Velho, as presenças de milicianos do Rio e de Marcinho VP, que declarou recentemente em entrevista que o tráfico financia campanhas eleitorais, também foram consideradas nos estudos de inteligência feitos pelo governo federal. A escolha por Campo Grande foi consinderada como a melhor opção. Cabral ficará numa vivência, espécie de ala, com outros detentos, numa cela individual. Mas é possível que seja escolhida a ala menos povoada para abrigá-lo.
Apesar das normas rígidas do sistema penitenciário federal, a opção por colocar Cabral longe de desafetos é uma medida de segurança adotada pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen) do Ministério da Justiça, responsável pelas quatro unidades atuais. Além da integridade do próprio interno, o órgão quer preservar a ordem e disciplina no estabelecimento. Nele, Cabral poderá receber visitas uma vez por semana durante três horas e ter banho diário de sol por duas horas.
DECISÃO É DETERMINAÇÃO DE BRETAS
A transferência é uma determinação do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio. Bretas disse que as declarações de Cabral durante a audiência soaram "como uma ameaça" a ele.
Durante seu depoimento, o ex-governador mencionou o fato de a família do magistrado atuar no ramo de bijuterias. Na sequência, Bretas retrucou que entendia a citação como uma possível ameaça. O depoimento foi suspenso por cinco minutos.
Ao final da audiência, o procurador Sérgio Pinel fez o pedido para que Sérgio Cabral fosse transferido. Bretas determinou que a mudança seja realizada.