Bem antes de a Bibi Perigosa — a escritora Fabiana Escobar que inspirou a história vivida por Juliana Paes na novela “A força do querer”, da TV Globo — reinar como a baronesa do tráfico na Rocinha, outra mulher já havia deixado a sua marca na chefia do crime organizado que domina a região. Pedagoga e escritora, Raquel de Oliveira, de 56 anos, é autora do livro “A número um”, romance baseado em fatos reais que revela como a relação com Ednaldo de Souza, o Naldo, um dos maiores traficantes do estado nos anos 1980, fez dela própria a dona do morro.
Vivendo numa casa na comunidade, ela conta, sob a ótica de um morador comum, como está enfrentando a guerra pelo controle do morro e revela: o traficante Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, foi destituído porque está viciado em ecstasy e “estava surtado, matando até a própria sombra”.
— Os últimos dias aqui têm sido muito difíceis. Tenho saído muito pouco de casa. Mas não tenho medo de nada. O que tenho é cuidado. Não tenho colete e no lugar onde moro é passagem de traficantes e de policiais. Só hoje (ontem) houve dois tiroteios. Quando essa guerra começou, a parede da minha cozinha foi metralhada, mas ainda bem que nada de ruim aconteceu — conta Raquel, que já reinou na Rocinha com o apelido de Bonitona.
Sem entrar em detalhes sobre a sua relação com os criminosos que hoje atuam na comunidade, ela descarta que Danúbia, mulher de Nem, seja a responsável pela guerra da Rocinha:
— O papel da Danúbia nessa história é outro. O Rogério 157 está louco. Está usando muita balinha (ecstasy). Nos últimos tempos estava transtornado. Matava até quem o cercava. Todo mundo tinha medo. E ele estava impondo o terror aos comerciantes. De um tempo para cá, parte dos ganhos do comércio local vai direto para o tráfico.