Uma arma branca para cada três presos foi encontrada nas varreduras realizadas pelas Forças Armadas em 13 presídios de cinco estados desde o início do ano, após os massacres que deixaram mais de 130 mortos em apenas 15 dias. O balanço inédito aponta a localização de 4.203 facas, estacas, arames, tesouras, entre outros materiais, nas cadeias vistoriadas que abrigam 11.829 detentos.
Somente uma arma de fogo, de fabricação caseira, foi encontrada. Os militares apreenderam ainda 316 celulares, 163 chips e 238 acessórios de telefone (como fone de ouvido e carregador). Trouxas (92) e tabletes (18) de drogas, dois rádios transmissores, 66 televisores e 83 antenas improvisadas também foram localizados nas varreduras, além de 40 fogões ou fogareiros improvisados e três botijões de gás.
Raul Jungmann, ministro da Defesa, afirmou ao GLOBO que a quantidade e a diversidade de material encontrado dentro das cadeias mostra um conluio tácito entre o poder público e as organizações criminosas, baseado na “corrupção institucionalizada”.
— Fica evidente que em alguns estados há um acordo não escrito entre a administração penitenciária e o crime organizado. Como esse material todo entra nas cadeias? Há uma leniência — diz o ministro, sem especificar a quais estados se refere.
Jungmann cobra dos gestores estaduais que mantenham as cadeias vistoriadas “limpas”. Segundo ele, novos massacres se repetirão caso as armas brancas continuem a ser introduzidas nos presídios em que a falta de vagas dificulta o controle.
— A existência de armas e a superlotação apontam para a possibilidade de novas carnificinas, produzidas também pela corrupção institucionalizada. Não é possível entrar tudo isso sem que haja corrupção — critica Jungmann.
O presídio com o maior número de armas brancas apreendidas foi o Complexo Prisional Anísio Jobim, em Manaus, onde 56 presos morreram após massacre no início deste ano. Os militares retiraram do local 621 peças, o que representa 14,8% do total de 4.203 armas brancas apreendidas em todas as varreduras.
A unidade campeã de celulares recolhidos, com 18,4% dos 316 aparelhos apreendidos, foi o presídio de segurança máxima Jair Ferreira de Carvalho, em Campo Grande. Em unidades com bloqueador de celular, militares encontraram dois rádios transmissores.
Para Jungmann, além do cerco à entrada dos aparelhos de comunicação, é preciso criar leis que dificultem a transmissão de recados dos detentos para o mundo externo, minando, dessa forma, a influência das lideranças criminosas que estão atrás das grades:
— É urgente a mudança na legislação para se ter parlatórios, para evitar que recados sejam repassados por meio de advogados e familiares. Hoje, com a comunicação liberada, as cadeias viraram home office dos criminosos, de onde eles emitem os salves para aterrorizar a população.
As varreduras das Forças Armadas em presídios empregaram 4.602 militares em cinco estados e custaram R$ 10,1 milhões aos cofres públicos. Eles usaram equipamentos de raio-x, detectores de metal, cães farejadores, câmaras telescópicas e detectores de uso de celular.
O protocolo empregado, segundo Jungmann, foi semelhante ao das Olimpíadas, quando as Forças Armadas fizeram varreduras em locais de competição e de recepção de chefes de Estado e demais autoridades. De acordo com o ministro, após essa inspeção detalhada as unidades prisionais estão prontas para adotar controles rígidos.
O estado com mais presídios fiscalizados foi o Rio Grande do Norte. Além da unidade de Alcaçuz, na Região Metropolitana de Natal, palco de um massacre em janeiro passado, quatro cadeias passaram pela inspeção. Em segundo lugar vem Rondônia, com três estabelecimentos vistoriados. Mato Grosso do Sul e Amazonas tiveram, cada um, duas cadeias contempladas, e Roraima, uma.
Os principais problemas levantados pelos militares foram a falta de bloqueadores de celular nos estabelecimentos, celas e instalações inseguras, falta de locais para visitas, contato entre presos do regime semiaberto e aberto, guaritas parcialmente desguarnecidas e serviços internos prestados por detentos devido à ausência de agentes penitenciários.